“O meu sonho era estar no Mundial”
É o atleta português com melhor currículo, mas as lesões retiraram-lhe a hipótese de estar em França
David Andrade
Na história do râguebi português não há outro jogador que tenha um currículo internacional semelhante. Após mais de uma década a competir na elite da modalidade — duas vezes campeão francês e duas finais europeias de clubes pelo ASM Clermont —, Julien Bardy foi forçado a retirar-se dos relvados em 2020, após perder a sua “principal arma”: o ombro. Plaqueador implacável e um dos melhores terceiras-linhas em França, deixou de jogar aos 34 anos — “O meu corpo já não permitia”. Em conversa com o PÚBLICO, Bardy, que tem origens transmontanas, confessa que teria sido “um sonho” jogar por Portugal num Mundial e diz que não ficou surpreendido com a estreia dos “lobos”: “Sabia que Portugal podia deixar uma boa imagem.”
Teve de se retirar aos 34 anos, devido às lesões no ombro. Três anos depois, Portugal está a jogar em França o Mundial. O que sente ao ver a competição de fora?
É um grande orgulho ver Portugal a jogar num Campeonato do Mundo. É muito importante para promover o râguebi português e para que os jovens em Portugal comecem a jogar. Quanto a mim… Sempre tive tanta vontade de jogar um Mundial e acabei por não ter essa oportunidade. Tentámos muito e tivemos bons resultados, mas não conseguimos. Faz parte do râguebi e do desporto.
A sua primeira internacionalização foi aos 22 anos. No ano seguinte ao Mundial 2007, onde Portugal esteve. Agora abandonou antes do Mundial 2023. Esteve por duas vezes tão próximo...
Fisicamente era impossível continuar. Tive duas lesões muito complicadas no ombro e foi difícil continuar a partir dos 30 anos, após a primeira lesão. Depois fiz uma ruptura completa do tendão do ombro, que era a minha arma principal. Vontade de continuar tinha muita, mas o meu corpo já não permitia. Estivemos perto de qualificar Portugal para o Mundial 2011. Aconteceu o que aconteceu na Rússia… Perdemos um jogo complicado, por tudo o que se passou à sua volta.
A nível de clubes venceu quase tudo. Ficou a faltar o Mundial na sua carreira?
Era o meu sonho. A minha carreira correu bem, mas podia ter sido ainda melhor. Podia ter tomado outras decisões, mas no Clermont fui campeão francês duas vezes e estive perto com o Montpellier. Também fui duas vezes finalista da Taça dos Campeões europeus de clubes… Essa foi outra frustração para mim. Mas faz parte do passado. Agora quero aproveitar a minha experiência para que a nova geração portuguesa não cometa os mesmos erros. Com toda a humildade, se conseguir ajudar, fá-lo-ei com muito prazer.
Assumiu recentemente as funções de vice-presidente na federação, com a missão de “fazer a ligação com os jogadores e clubes de França”...
É tudo ainda muito recente. O presidente da federação pediu-me ajuda, mas esta é uma fase complicada por causa do Mundial. Mas já estamos a preparar o que se irá seguir. O que queremos é não permitir que o nível do râguebi português baixe. Não podemos ir a um Mundial de 20 em 20 anos. A minha área de trabalho será o râguebi de XV e a ligação aos clubes e jogadores em França.
Jogou sempre ao mais alto nível em França, mas na sua altura havia poucos portugueses a jogar no estrangeiro. Contra o País de Gales havia nove na equipa titular. Ter tantos portugueses a jogar nos campeonatos franceses foi decisivo para a evolução de Portugal?
Acho que sim e queremos que ainda sejam mais. Quem tiver a oportunidade tem de ir. É outro modelo. É o profissionalismo. Vão viver uma experiência nova e diferente. Os jovens em França vão aprender muito. Depois podem trazer essa experiência para o râguebi português e para a selecção.
É fácil para os jovens portugueses, a maioria com boas perspectivas profissionais fora do râguebi, deixarem a zona de conforto e arriscarem começar por baixo em França?
Quando forem convidados, devem experimentar. É algo que ainda está a começar, mas é preciso perceber a melhor forma de gerir isso. Tenho
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2023-09-22T07:00:00.0000000Z
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