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Acervo de Ana Luísa Amaral passa para a Casa dos Livros, no Porto

Biblioteca pessoal e arquivo profissional da poeta poderão ser consultados depois de fechada a fase de tratamento e catalogação

Daniel Dias

A biblioteca pessoal de Ana Luísa Amaral e o seu arquivo académico e literário são hoje entregues oficialmente à Casa dos Livros, no Porto, numa cerimónia às 18h. A entrega deste espólio, que poderá ser consultado por investigadores e demais pessoas interessadas depois de findo o processo em curso do seu tratamento e catalogação, marca o arranque das celebrações do programa Figura Eminente, iniciativa da Universidade do Porto (UP) que, no presente ano lectivo, homenageará a poeta e antiga professora universitária, falecida em Agosto do ano passado aos 66 anos.

Reflxões sobre estudos feministas e de género, “dossiers das [suas] aulas, participações, inéditos e outros cadernos”, como há dias desvendava a filha Rita Amaral ao site de notícias da UP, onde a poeta teve uma importante carreira como investigadora, fazem parte do acervo que inclui também a sua colecção pessoal de livros. “Existe uma relação íntima entre aquilo que ela ia preparando para as suas aulas, as reflexões que fazia nesse contexto, e a sua obra literária, em que há um crescendo de consciencialização para as questões feministas, primeiro, e depois queer”, refere ao PÚBLICO a vice-reitora da UP para a área da Cultura e co-curadora da edição deste ano do Figura Eminente, Fátima Vieira.

A responsável, que foi aluna de Ana Luísa durante dois anos em meados da década de 1980, numa cadeira de Literatura Inglesa, lembra uma mulher “obcecada com os livros que lia”. E nessa altura, conta, a obsessão passava por obras cruciais da crítica feminista como The MadWoman in the Attic (1979), livro em que Sandra Gilbert e Susan Gubar analisam autoras do século XIX e o que entendem como os constrangimentos sociais que moldaram a sua escrita, e uma “estética” da literatura feminina nesse período. “A Ana Luísa punha-nos a pensar a partir da perspectiva da mulher, tentou despertar novas consciências”, resume Fátima Vieira, elogiando alguém que, com as teses de mestrado e doutoramento que orientou, “foi criando ‘massa crítica’, como agora se costuma dizer, para que a área de estudos feministas pudesse

ficar bem consolidada” na Universidade do Porto.

A UP refere que “ainda é prematuro dizer quando terminará” a fase de tratamento e catalogação em que se encontra o acervo.

Coube à Faculdade de Letras da Universidade do Porto (FLUP), um dos vários pólos da UP, a tarefa de nomear a Figura Eminente deste ano lectivo, num programa comemorativo que a instituição de ensino superior mantém há mais de dez anos. “Temos escolhido pessoas maiores que a sua própria casa: figuras com uma obra, um pensamento e uma vida que não se cingiram à faculdade onde ensinaram”, diz Fátima Vieira, referindo que a nomeação de Ana Luísa Amaral foi “quase natural”.

Na cerimónia inaugural de hoje, será dinamizada uma mesa-redonda, onde Fátima Vieira e os docentes da FLUP Fátima Outeirinho (a outra cocuradora deste Figura Eminente) e Rui Carvalho Homem falarão sobre as “facetas” de Ana Luísa Amaral, desde a obra literária ao trabalho académico e intervenção cívica.

Será também exibido um documentário sobre a entrega do acervo à Casa dos Livros e inaugurado, no mesmo espaço, o Auditório Ana Luísa Amaral. “Vai ficar como um lugar de memória”, resume a vice-reitora.

Amanhã, acontece no pátio do Museu de História Natural e da Ciência da Universidade do Porto uma Noite das Ideias, que também incluirá um tributo à poeta. Pelas 20h, será lançado o número zero da revista PÁ — Poesia e Outras Artes. Dentro da publicação, que será distribuída gratuitamente por todas as faculdades da UP, estão dez poemas de Ana Luísa Amaral dedicados à filha.

Está também um repto: os estudantes serão desafiados a escolher um desses poemas e criar um objecto artístico num formato à escolha (poesia, desenho, fotografia, imagem em movimento…). Os interessados poderão enviar as suas propostas à reitoria até 30 de Abril de 2024. Com esse material, conta Fátima Vieira, serão feitas homenagens a Ana Luísa Amaral, que, dependendo da natureza dos contributos, poderão ir de exposições a edições futuras da revista.

O resto do programa, que durará até Setembro do próximo ano, ainda está a ser montado, mas a vice-reitora antecipa já alguns eventos. A 2 de Outubro, deverá ser inaugurada na FLUP uma outra exposição, “sobretudo documental”. E a 5 e 6 de Abril de 2024, o Instituto de Literatura Comparada Margarida Losa, onde Ana Luísa Amaral foi investigadora, organizará um congresso sobre o seu trabalho poético.

Cultura

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2023-09-22T07:00:00.0000000Z

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