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Guerra de Israel contra o Hamas não muda nada no apoio da NATO à Ucrânia

Aliados estão preocupados com o risco de uma escalada no Médio Oriente, mas repetem que o apoio à Ucrânia é inabalável

Rita Siza, Bruxelas

A mensagem repetida pelos ministros dos Negócios Estrangeiros da NATO, ontem, em Bruxelas, foi a de que o seu apoio à Ucrânia é inabalável e inquestionável, e não fica comprometido, nem será posto em causa, pela necessidade de responder a outras crises, como aquela que se vive agora no Médio Oriente.

A NATO está presente na região, “mas não tem um papel activo no conflito israelo-palestiniano”, lembrou o secretário-geral da aliança, Jens Stoltenberg, que mesmo assim voltou a apelar ao prolongamento da pausa nas hostilidades entre Israel e o Hamas para “permitir a libertação de mais reféns e o acesso da ajuda humanitária à população da Faixa de Gaza”.

A questão preocupa os aliados, até pelo risco de uma escalada regional, com inevitáveis repercussões no território da aliança. “Por isso dizemos ao Irão que não tente aproveitar esta situação de instabilidade, e que controle os seus agentes do Hamas e do Hezbollah”, disse Stoltenberg.

Mas isso não os distrai da questão que os trouxe até ao quartel-general da NATO — que não foi a guerra de Israel contra o Hamas, como lembrou Stoltenberg. “Os ministros discutiram a postura de dissuasão e defesa, e o seu apoio à Ucrânia, olhando já para a próxima cimeira de Julho em Washington”, quando a aliança atlântica assinalará o seu 75.º aniversário.

“Reafirmamos o nosso firme apoio à Ucrânia, enquanto enfrenta a agressão da Rússia, e aguardamos a cimeira do próximo ano em Washington, não só para celebrar o aniversário da NATO, mas para continuar a projectar a aliança, incluindo os compromissos que os seus membros estão a assumir para a nossa defesa colectiva”, declarou o secretário de Estado norte-americano, Antony Blinken, à entrada para a reunião.

Palavras que darão alento ao Presidente da Ucrânia — Volodymyr Zelensky mantém a expectativa de receber o convite formal para a adesão à NATO nessa data —, mas que não respondem à sua preocupação do momento, que tem que ver com os “obstáculos” à aprovação dos novos pacotes financeiros de apoio

Como outros colegas da UE, Gomes Cravinho lembrou que nestes 20 meses de guerra de agressão da Rússia contra a Ucrânia, “tem sido sempre possível encontrar um caminho comum”. “A Hungria, que é apontada como um país mais próximo da Rússia, fez parte da unanimidade dos Estados-membros da UE que aprovaram 11 pacotes de sanções, e não acredito que seja diferente desta vez”, observou.

Quanto à polarização política nos Estados Unidos, ou à aliança com o Estado de Israel, o ministro confia que não interferirá com o seu apoio à segurança e defesa da Ucrânia. “São dois desafios distintos, e não há qualquer redução do empenho dos Estados Unidos com a Ucrânia, que não perdeu a sua importância geoestratégica depois de 7 de Outubro”, sublinhou, repetindo que “também é o futuro da segurança de toda a região euro-atlântica que está em jogo”.

Hoje, os ministros vão avaliar os mais recentes desenvolvimentos da guerra de agressão da Rússia contra a Ucrânia na reunião do Conselho NATO-Ucrânia. Será mais uma oportunidade para tranquilizar o Governo de Kiev relativamente ao compromisso de longo prazo da aliança. “Colectivamente, já decidimos que a porta está aberta e que a Ucrânia irá aderir à NATO logo que houver condições para isso”, lembrou Gomes Cravinho, afastando a hipótese de que tal possa acontecer enquanto o país estiver em guerra.

“Não é possível neste momento pensar em absorver dentro da NATO um país que esteja em guerra”, disse o ministro, acrescentando que a entrada da Ucrânia “vai depender de muitas coisas, desde logo daquilo que se passa no campo de batalha”.

Contrariando a ideia de que a guerra congelou, uma vez que “a frente de combate não se mexeu muito neste ano”, o secretário-geral da NATO chamou a atenção para a violência dos combates e as sucessivas vagas de ataques russos a cidades ucranianas.

“Temos de estar preparados para mais combates e mais ataques aéreos, com drones e mísseis. Isso torna ainda mais importante o apoio dos aliados”, frisou Stoltenberg, saudando os anúncios feitos pela Alemanha e os Países Baixos de um reforço da sua ajuda bilateral em 8000 milhões de euros e 2000 milhões de euros, respectivamente, ou do arranque do programa de formação e treino de pilotos ucranianos em caças F-16, na Roménia.

Guerra Na Ucrânia

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2023-11-29T08:00:00.0000000Z

2023-11-29T08:00:00.0000000Z

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