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Laboratórios abandonados em Faro podem albergar projecto de microalgas

Em três anos, investigadores da Universidade do Algarve, com um milhão de euros de investimento, já tiveram um retorno de 6,8 milhões. Mas falta-lhes espaço para instalar novos laboratórios

Idálio Revez

As algas não servem só para alimentar peixes. Na agricultura, estes organismos podem também servir de suplemento vitamínico às alfaces, espinafres ou framboesas. O projecto que põe em prática esta tese está a ser desenvolvido pela Universidade do Algarve (Ualg), através da GreenColab, uma equipa de 32 investigadores, de seis nacionalidades diferentes. O trabalho tem sido coroado pelo sucesso e o caminho óbvio é a sua expansão. O espaço está escolhido: os laboratórios de apoio à produção animal que fecharam há uma década em Faro. Porém, tarda em chegar luz verde para essa ambição.

João Navalho, biólogo marinho, produtor de microalgas há mais de duas dezenas de anos, elogia o sucesso deste projecto. “A aplicação das algas na agricultura, em substituição dos fertilizantes químicos, teve um resultado espectacular”, comentou. Os jovens investigadores estão integrados num consórcio que junta academia às empresas ligadas à área do mar. O projecto partiu com um investimento de um milhão de euros. Passados três anos, o efeito multiplicador do trabalho produziu 6,8 milhões de euros. E outras inovações estão na agenda. O próximo passo é criar uma biorrefinaria para processamento de algas, nos tais laboratórios abandonados que estão na Direcção Regional de Agricultura e Pescas do Algarve, e reforçar a equipa, até final do ano, com mais quatro elementos.

Na Universidade do Algarve, este laboratório está distribuído por diferentes espaços e já não há lugar para sentar pessoas ou instalar equipamentos. “Vivemos a crise do crescimento, tal como o Centro de Ciências do Mar (CCMar)”, comenta Hugo Pereira, de 39 anos. A equipa, que abrange as áreas da biotecnologia à engenharia alimentar, passando pela química, vende serviços para várias empresas que se dedicam à produção de algas, a nível nacional, mas também exporta conhecimento para países como a Nova Zelândia, Espanha, França, Grécia e Itália.

Em carteira, há projectos aprovados para executar até 2025 que contam com um investimento de mais 4,8 milhões de euros. “Este é um bom exemplo da ligação entre a universidade e as empresas”, comenta João Navalho, que dirige uma empresa de produção de microalgas há 25 anos, sediada em Olhão e uma outra unidade em Leiria, com 82 trabalhadores.

Mas o desenvolvimento dos novos protótipos a partir das algas (biofertilizantes para a agricultura e alimentos para a criação de peixe em aquacultura) poderão estar comprometidos, se não for encontrado um espaço mais amplo para instalar os laboratórios. “Apresentámos uma proposta para arrendar, por 3800 euros/mês, o edifício dos antigos laboratórios de apoio à produção animal do Ministério da Agricultura, na Direcção Regional de Agricultura e Pescas no Patacão

Regional (CCDR Algarve), José Apolinário, encontra-se pendente da decisão da Estamo — empresa de capitais públicos responsável pela gestão do património do Estado. O PÚBLICO procurou saber quando estaria prevista uma resposta da Estamo, Participações Imobiliárias, SA, mas sem sucesso. Das empresas que, anteriormente, manifestaram interesse em alugar o imóvel, destaca-se as Águas do Algarve. Desistiu desse plano em 2019.

Na zona envolvente aos laboratórios, a GreenColab prevê instalar uma estufa de hidropomia (agricultura sem terra) e tanques para peixes. “Vamos montar uma biorrefinaria”, sintetiza Hugo Pereira. “O melhor caminho para as algas é alimentos funcionais para combater o stress e aumentar a imunidade dos peixes, reduzindo o uso de antibióticos”, explica.

Pelo lado do sector agrícola, Pedro Monteiro destaca o benefício ambiental que poderá advir com a investigação aplicada no terreno. “Vai contribuir para acelerar a transição verde.” “[Num futuro próximo] deixaremos de usar os fitofármacos de síntese química, passando a usar o biológico”, assegura. Ao nível da nutrição da planta, prossegue, os fertilizantes químicos serão substituídos pelos orgânicos.

O investimento em investigação e desenvolvimento (I&D) no Algarve fica a menos de um terço da média nacional: 0,48% do PIB é investido no sector na região, enquanto a média nacional é de 1,7%.

O turismo é a actividade dominante e toda a economia gira à volta do binómio sol e praia. Mas uma dessas componentes é também uma vantagem para a investigação, diz Hugo Pereira. “Como temos muito sol, é difícil encontrar melhor sítio para produzir algas.” Dois exemplos: em Olhão, a Sparos, empresa formada em 2008, por dois antigos professores da Ualg, Luís Conceição e Jorge Dias, é uma referência para o mercado na produção de alimento para peixes. Na mesma cidade, a Necton é a empresa mais antiga da Europa a produzir microalgas.

O consórcio da GreenColab é formado por três instituições universitárias (CCMar, Laboratório Nacional de Energia e Geologia e Universidade de Aveiro) a que se juntam mais cinco investidores privados.

Estão a ser desenvolvidos biofertilizantes para a agricultura e alimentos para a criação de peixe em aquacultura

O desenvolvimento de novos projectos poderá estar comprometido, se não houver mais espaço laboratorial

Investigadores Precisam De Espaço Para Instalar La

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2023-11-29T08:00:00.0000000Z

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