Público Edição Digital

Maiores, mais confortáveis e seguros. Novos eléctricos de Lisboa entram ao serviço

Modernos e silenciosos, veículos podem levar 220 passageiros. Novas composições operam na linha 15 da Carris

Samuel Alemão Texto Matilde Fieschi Fotografia

O momento é de máxima concentração. Sentado numa cadeira com notórias qualidades ergonómicas e rodeado por botões, luzinhas que piscam e ecrãs a actualizarem em permanência informações codificadas, André Almeida mostra toda a concentração ante as instruções que Dário Ussumane, inspector de tráfego dos eléctricos da Carris, de pé ao seu lado, lhe vai dando com uma voz serena. “A chave foi colocada na posição 1, certo? A luzinha verde acesa indica que o pantógrafo está ligado, como vimos nas aulas”, diz o inspector. O guarda-freio acena em concordância, antecipando os primeiros momentos na marcha da viagem de teste do 604, um dos três novos eléctricos da empresa de transportes de Lisboa que começam a circular, hoje, na linha 15.

É um momento histórico, pois trata-se da primeira vez, em quase três décadas, que se assiste à entrada ao serviço de novo material circulante na frota de eléctricos da Carris. Os veículos articulados fazem parte de um lote de 15 que a empresa municipal adquiriu, por 40,4 milhões de euros, entrando todos progressivamente ao serviço até ao início de 2024. Os equipamentos foram construídos pelo fabricante basco CAF, fornecedor escolhido em 2021, na sequência do concurso público para a aquisição de material circulante lançado, em Abril de 2019, pelo então presidente da Câmara Municipal de Lisboa, Fernando Medina (PS).

Um investimento a pensar não só na melhoria imediata do serviço da linha 15, que liga a Praça da Figueira a Algés, mas também nos planos de expansão da rede de eléctricos da capital. O projecto de alargamento da cobertura deste meio de transporte fora anunciado por Medina há mais de quatro anos e é agora confirmado ao PÚBLICO por Maria Albuquerque, vice-presidente do conselho de administração da Carris. “Estes eléctricos destinam-se a reforçar significativamente a oferta na carreira 15E, que opera no eixo ribeirinho da cidade. Mais, permitem viabilizar a execução dos prolongamentos da linha previstos: para ocidente, até à Cruz Quebrada e Jamor, e para oriente, até Santa Apolónia, numa fase inicial, e até ao

Parque das Nações, numa fase posterior”, diz.

Mas, para já, quem deverá sentir melhorias notórias no serviço serão os muitos utentes da linha 15, a qual, desde Dezembro de 2022, tem visto o percurso encurtado, com a supressão da ligação entre a Praça da Figueira e o Cais do Sodré, devido às obras de reparação dos colectores da Rua da Prata. “Isto representa um claro aumento na qualidade do serviço prestado aos passageiros, com mais segurança, mais conforto e menos ruído. As pessoas vão notar as diferenças”, garante Dário Ussumane, 50 anos, metade dos quais passados como funcionário da Carris. Agora, é a ele quem cabe supervisionar a formação das cerca de duas centenas de guarda-freios da companhia e zelar pelo normal funcionamento do serviço de prestado aos passageiros na rede de eléctricos.

220 e mais um pouco

Além do design contemporâneo do material circulante e do cheiro a novo do seu interior, a mais clara diferença nas carruagens tem que ver com o maior tamanho e, por consequência, maior capacidade de transporte relativamente aos modelos anteriores. Os veículos que agora entram em operação podem levar 220 pessoas, embora, em situações de máxima carga, possam comportar mais quatro dezenas de passageiros. O anterior modelo de articulados, da “série 500-510”, construído pela Siemens e que entrou ao serviço nesta mesma linha em 1995, pode levar, em máxima carga, até 205 passageiros. Para esse acréscimo de capacidade contribui não só um mais eficiente aproveitamento do espaço interior, mas também o facto de as novas composições serem mais compridas, medindo 28,4 metros. As mais antigas têm cerca de 24 metros.

As diferenças, no entanto, são bem mais vastas. “Os novos veículos são uma ponte para o futuro, com uma clara inovação tecnológica”, diz Dário Ussumane, junto à denominada “raquete de Belém”, local entre o Mosteiro dos Jerónimos e os Pastéis de Belém onde os eléctricos fazem as inversões de marcha. “Para os guarda-freios, é tudo mais fácil e intuitivo. Os comandos permitem que algumas tarefas nem tenham de ser feitas”, explica o inspector de tráfego, dando conta da comodidade trazida a quem dirige o veículo pelo sistema de controlo e condução informatizado.

Os ecrãs na cabina, faz-lhe notar o PÚBLICO, aparentam debitar demasiada informação, a ponto de parecerem tornar a condução uma coisa muito complexa. “Não, isto é quase como mexer num smartphone”, desmistifica Dário, aludindo à conveniência trazida por um sistema codificado de cores, ajudando assim os guardafreios a fazerem uma leitura mais simplificada e intuitiva de toda a informação que lhe é debitada pela consola da cabina. E isso torna a operação mais fácil e segura. “Mas isso não quer dizer que os modelos mais antigos não sejam seguros. Porque são, efectivamente”, frisa Dário.

Também Sara Coelho, 46 anos, outra das formadoras da Carris que acompanham a viagem de teste realizada até Belém, com quatro guardafreios em aprendizagem prática dos procedimentos de operação, não tem dúvidas sobre os predicados técnicos das novas composições. “Nota-se a diferença”, diz, antes de fazer uma confissão: “Mas continuo a preferir os ‘remodelados’, pois dão mais luta”, diz, sorridente, referindo-se aos clássicos eléctricos da “classe 700”, que são a imagem de marca da frota da Carris e também constituem um dos ícones da cidade de Lisboa.

“Para os guarda-freios, é tudo mais fácil e intuitivo. Os comandos permitem que algumas tarefas nem tenham de ser feitas”

Adeus moedas e notas

No final dos primeiros minutos aos comandos da máquina que passará a estar habilitado a pilotar daqui para a frente, tal como outros 130 colegas, André Almeida mostra-se aliviado e confiante. “No fundo, é como se fosse o momento de conduzir um automóvel novo. É tudo uma questão de sentir o carro e perceber qual a sensibilidade”, explica o guarda-freio de 52 anos, há mais de duas décadas ao serviço da Carris, fazendo com a mão o gesto de manuseamento do dispositivo de controlo de marcha.

Para os passageiros, além da suavidade e do conforto na viagem, serão notórias outras melhorias. A começar pelas rampas rebaixadas de acesso para passageiros com dificuldades de mobilidade, existentes em duas das quatro portas da composição. Outro aperfeiçoamento tem que ver com a existência de ecrãs onde será dada informação actualizada sobre o percurso. De notar ainda que as máquinas de venda de bilhetes passarão apenas a funcionar com possibilidade de pagamento através de cartão bancário e por smartphone, deixando de ser possível de o fazer com recurso a notas e moedas.

Local

pt-pt

2023-09-22T07:00:00.0000000Z

2023-09-22T07:00:00.0000000Z

https://ereader.publico.pt/article/281771338804969

Publico