Da Grã-Bretanha imperial até ao Reino Unido orgulhosamente só
Ao fim de 70 anos como soberana, Isabel II vê o reino a abrir brechas pelo “Brexit” e a popularidade republicana a crescer em países onde ainda é chefe de Estado
António Rodrigues
Qualquer pessoa que viu a série The Crown sabe onde estava Isabel Alexandra Maria ou Elizabeth Alexandra Mary, para os que não partilham dessa tradição antiga de traduzir os nomes dos monarcas, quando a informaram da morte do pai, o rei Jorge VI, a 6 de Fevereiro de 1952: visitava o Quénia, a caminho da Austrália e da Nova Zelândia, numa viagem de Estado como princesa de York em representação do pai que se encontrava demasiado doente para viajar.
O mundo era outro, como não podia deixar de ser, se o compararmos com os dias de hoje do seu longo reinado que chegou ao jubileu de platina — 70 anos no trono que se assinalaram a 6 de Fevereiro e cujos festejos culminam por estes dias, com quatro feriados nacionais, de hoje a domingo. Ou talvez não. Naquele ano de 1952, o mundo estava em Guerra Fria, o Reino Unido passava por uma crise económica e agora parece que também.
Os conservadores britânicos até se livraram por intermédio do referendo do “Brexit” da União Europeia, onde estiveram durante dois terços do reinado de Isabel II (47 anos), e assumiram o seu orgulhosamente sós, mas sem império e com mais países independentes a optarem por cortar as ligações com a monarquia britânica (como Barbados em Novembro) ou a pensarem em se transformar em repúblicas, abdicando da rainha de Inglaterra como sua chefe de Estado.
Nesse regresso nostálgico ao passado, o Governo de Boris Johnson até se prepara para deixar os donos das lojas voltar a usar a libra como medida de peso, em vez dos quilos e dos gramas que adoptara a partir da integração europeia nos anos 1970, escreve Thomas Daigle, da CBC, a emissora pública do Canadá, um dos países soberanos que continuam a manter Isabel II, de 96 anos, como monarca. Aliás, tal como Austrália e Nova Zelândia, os países onde a princesa de York não chegou a ir em 1952, regressando do Quénia a casa para ser coroada.
Mas esse debate já está a ser feito
Os simpatizantes da monarquia britânica estão acampados nas imediações do Palácio de Buckingham para não perderem pitada das cerimónias do jubileu
nesses países independentes, onde muitos na sociedade (sobretudo entre as gerações mais novas) se questionam porque se insiste em manter o velho vínculo colonial com o império, tendo como chefe de Estado (mesmo que meramente simbólico) o monarca britânico.
O novo Governo australiano, que acaba de tomar posse esta semana, nomeou um secretário de Estado da República, num claro sinal de que Anthony Albanese, o novo primeiro-ministro e líder do Partido Trabalhista, quer levar a sério o seu compromisso republicano. Uma sondagem de Janeiro do Sydney Morning Herald mostrava 54% de apoio ao fim da monarquia, embora ainda houvesse dúvidas sobre a forma de eleger o Presidente, uma evolução em relação ao referendo de 1999, em que os australianos votaram para manter a monarquia.
Uma sondagem do ano passado na Nova Zelândia mostrava que entre as pessoas com menos de 60 anos, o republicanismo estava em vantagem, com 59% entre os eleitores entre 18 e 30 anos. Na altura,
Mundo Jubileu De Platina Da Rainha De Inglaterra,
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2022-06-02T07:00:00.0000000Z
2022-06-02T07:00:00.0000000Z
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