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Equipa liderada pela OMS retira 31 bebés prematuros do Hospital Al-Shifa

Organização Mundial de Saúde diz que hospital em Gaza é um local de “morte” e elogia “esforços heróicos” dos médicos. Qatar expressa optimismo em relação a acordo para libertação de reféns

Maria João Guimarães

Durante vários dias, foram o símbolo das dificuldades do Hospital Al-Shifa, na Cidade de Gaza, depois de ter acabado o oxigénio e o combustível para electricidade: mais de 30 bebés prematuros que deixaram de estar em incubadoras para se juntarem, numa cama, mantidos quentes com tecido hospitalar verde preso com fita adesiva ou outros meios improvisados.

Nem todos os bebés sobreviveram até serem retirados do hospital, o que ocorreu ontem, numa operação dirigida pela Organização Mundial de Saúde (OMS), que disse que as instalações eram um local “de morte”. Os 31 bebés que sobreviveram, de um grupo de 39, foram levados para uma unidade de saúde em Rafah e a sua ida para o Egipto foi adiada para hoje, dado o seu estado frágil.

A OMS comentou que os médicos no hospital eram “nada menos do que heróis”, tendo continuado a trabalhar em condições muito difíceis. Primeiro, foi a falta de medicamentos, anestésicos, desinfectantes; depois, a falta de electricidade, água e comida, e a acumulação de corpos de mortos que não conseguiram tratar e para quem não havia morgue. Finalmente, depois da entrada dos soldados israelitas no complexo, 25 profissionais de saúde mantiveram-se no hospital, não querendo deixar os doentes para trás, embora já não pudessem cuidar deles, disse a BBC.

Segundo a OMS, estavam ainda no hospital 259 doentes, incluindo duas pessoas nos cuidados intensivos e 22 pessoas que precisam de fazer diálise. A organização acrescentou que “estão a ser planeadas mais missões para transportar com urgência os pacientes e pessoal de saúde que ainda estão no Hospital Al-Shifa, aguardando garantias de passagem segura pelas partes em conflito”.

O director do hospital, o maior da Faixa de Gaza, vinha a apelar a ajuda há dias. “Há cadáveres nas urgências, doentes a gritar, não podemos fazer nada, e o Exército israelita anda pelo hospital”, descreveu o director, Muhammad Abu Salima, ao serviço em árabe da BBC. Israel diz que o Hamas tem um centro de comando sob o hospital, do qual ainda não apresentou provas, argumentando que poderá ainda levar semanas a terminar as buscas no complexo.

Ontem, o Exército mostrou imagens de câmaras que dizem ser combatentes do Hamas levando um civil nepalês e outro tailandês (um está numa maca, o outro vai agarrado, mas a pé) no dia 7 de Outubro e ainda imagens de veículos militares israelitas roubados durante o ataque dentro do complexo do hospital, o que prova, para o porta-voz Daniel Hagari, a utilização do hospital pelo movimento armado.

O Exército tinha antes dito que uma entrada encontrada no complexo hospitalar levava a um túnel de 55 metros a dez metros de profundidade, que terminava numa porta fechada, cita o diário israelita Haaretz.

Acordo de reféns

O primeiro-ministro do Qatar afirmou ontem que os principais pontos para um acordo que leve à libertação de dezenas de reféns israelitas nas mãos do Hamas estão fechados e que a principal questão em aberto é de logística.

“Os desafios que se mantêm nas negociações são menores comparado com os desafios maiores, são mais logísticos, são mais práticos”, declarou o primeiro-ministro do Qatar, Mohammed Bin Abdulrahman alThanisaid, numa conferência de imprensa com o responsável pela política externa da UE, Josep Borrell.

“Tem havido altos e baixos em algumas alturas durante as últimas semanas. Mas penso que sabem que estou mais confiante de que estamos muito perto de conseguir um acordo que possa trazer as pessoas para casa em segurança”, disse ainda o chefe do Governo do Qatar, citado pela Reuters.

A afirmação segue-se a uma notícia, dada no sábado pelo diário norte-americano The Washington Post, sobre um potencial acordo que implicaria uma suspensão, durante cinco dias, de todas as operações de combate enquanto grupos de reféns — num total de 50 ou mais — iam sendo libertados, em grupos menores, um grupo por dia. O diário norteamericano disse que, apesar de parecer que o acordo tinha boas hipóteses, “não é ainda claro se Israel iria concordar em fazer uma pausa na sua ofensiva na Faixa de Gaza”.

O primeiro-ministro de Israel, Benjamin Netanyahu, declarou no sábado que não há acordo e referiu “muitos relatos” e “rumores incorrectos”. Mas ontem o embaixador israelita nos EUA, Michael Herzog, disse estar “esperançoso” de que consigam “um acordo nos próximos dias”, numa entrevista à ABC.

Uma potencial libertação de um grupo maior de reféns pelo Hamas tem sido referida repetidamente como podendo estar próxima, mas nunca chegou a verificar-se.

Até agora, o Hamas libertou quatro reféns, primeiro uma mãe e filha com dupla cidadania, israelita e americana, e de seguida duas mulheres israelitas com mais de 70 anos. Uma militar foi resgatada pelo Exército israelita com vida e esta semana foram encontrados e resgatados os corpos de duas reféns, uma militar e uma mulher doente oncológica. O Governo da Tanzânia anunciou ainda que foi encontrado o corpo de um refém, Clemence Mtenga, levado pelo Hamas e que o corpo seria repatriado.

Pensa-se que estão em Gaza 239 reféns de 26 países, incluindo pessoas com dupla nacionalidade. O Hamas disse que cerca de 30 reféns foram mortos pelos bombardeamentos israelitas na Faixa de Gaza, mas não deu provas e, diz o Guardian, pode estar a fazer esta alegação para aumentar a pressão para um cessar-fogo.

Mundo Conflito No Médio Oriente

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2023-11-20T08:00:00.0000000Z

2023-11-20T08:00:00.0000000Z

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