Eleições na Madeira: uma região que insiste em circular à direita
As eleições regionais de domingo prometem um cenário repetido: uma maioria absoluta do centro-direita. Candidato do Chega fez pré-campanha de baixa
Henrique Pinto de Mesquita e Ruben Martins Texto Ana Zayara Fotografia
Não há eleições ganhas à partida, mas há sondagens que não deixam margem para antecipar outro cenário que não o de uma vitória estrondosa. As eleições regionais da Madeira deste domingo dão mais do mesmo no parlamento da região: uma maioria absoluta para o PSD, mas desta vez em coligação “Somos Madeira” com o CDS. A acontecer, será a 12.ª vez em 13 eleições regionais. Só em 2019 o cenário foi diferente e acabou por empurrar os centristas para o Governo Regional.
À medida que as sondagens lhe foram sugerindo os cenários de futuro, Miguel Albuquerque, actual presidente do Governo Regional, já disse tudo e o seu contrário. A versão final está escolhida e foi apresentada, uma vez mais, no comício da noite de quarta-feira em Santa Cruz: “Recuso-me a governar se não tiver maioria.” Nem Chega nem Iniciativa Liberal. Nada serve ao candidato social-democrata, que apela à mobilização das bases. Albuquerque não é João Jardim, mas, para uma geração de madeirenses de mais idade, mudar de partido é tão improvável como mudar de clube.
O medo é que a desmobilização seja a marca de uma jornada eleitoral de vencedor anunciado num Outono com um sol de Verão e de água do mar com uma temperatura que chama mais aos mergulhos do que aos votos. A letras garrafais, o Diário de Notícias da Madeira desta quinta-feira previa uma “coligação [PSD/CDS] demolidora” com 52,9% das intenções de voto. Mas as letras pequenas mostram que a sondagem foi feita até dia 10 de Setembro.
Dentro da coligação, o rosto do CDS, Rui Barreto, está entre a espada e a parede: quanto maior a vitória, menor influência terão os centristas que durante décadas foram voz de oposição à liderança dos sociais-democratas na região. Nuno Melo deverá ter motivos para celebrar uma vitória que não é sua.
Os socialistas, que há quatro anos tiveram com Paulo Cafofo — conhecido na região pelo trabalho como presidente da Câmara do Funchal — o melhor resultado de sempre na região (36%), apresentam um empresário de carreira que tem um discurso que faz lembrar o do PSD no continente. Os impostos são para baixar, defende Sérgio Gonçalves, começando pelo IVA: que será para reduzir dos 22% para os 16%, caso o PS chegue a formar governo.
No jantar-comício da Ponta do Sol de quarta-feira, a sala estava cheia de convencidos, mas não havia ninguém por convencer. Uns focavam olhares no candidato, outros no jogo do Benfica que passava discretamente nos ecrãs de um telemóvel, pontualmente interrompido por acenos trapalhões de bandeiras. Baixar impostos é tirar dinheiro da região? “A única diferença é que esse dinheiro deixa de ir para os cofres do Governo e fica nos bolsos dos madeirenses”, defendeu o candidato com um discurso liberal, mas que aparece vestido de socialista. Despacha-se a política em meia dúzia de minutos, que a fome não dá para mais. Serve-se o bacalhau e o frango.
De baixa a fazer política
Miguel Castro, vigilante da natureza, é o cabeça de lista do Chega, tendo definido o combate à “subsidiodependência” como um dos seus principais motes eleitorais. Mas fez pré-campanha quando estava de baixa. Entre 28 de Junho e 28 de Julho, ficou de baixa médica por “doença natural”, “incapacitante” e a exigir “cuidados inadiáveis”. A 30 de Junho recebe o líder do partido, André Ventura, com quem desfila numa arruada no Funchal e organiza um jantar a propósito das “eleições legislativas regionais”.
No início de Maio, uma junta médica retirava-o de outra baixa médica, avaliando-o como “apto para serviços moderados”, mas salvaguardando que não podia “realizar caminhadas”. Porém, menos de dois meses depois, Miguel Castro e a sua comitiva percorreram o arquipélago: a 7 de Julho visitou um lar; a 8 de Julho reuniu-se com pescadores e a 9 de Julho foi à mostra regional da banana. A 14 de Julho reuniu-se com o presidente do partido em Lisboa e no dia seguinte foi à Feira Agropecuária, no Porto Moniz. Um dia depois marcou presença na Festa da Lapa, na Calheta, e a 21 de Julho visitou a Associação de Paralisia Cerebral. Nos últimos dias da sua baixa, visitou a Feira do Santo, em Porto Santo; as instalações do PrediClub e o Mercado dos Lavradores.
Contactado pelo PÚBLICO, Miguel Castro confirmou que esteve de baixa médica no período descrito, sugerindo não ter tido quase acções políticas durante o mesmo. Quando o PÚBLICO as enumerou, defendeu-se dizendo que nada o impedia de “sair de casa” — o que é verdade — e “fazer uma acção” que não agudizasse o seu problema. “Vamos de carro aos sítios. Os andamentos são de passos pequenos. Uma arruada no Funchal tem um quilómetro, nada me impede de fazê-la”, começou por dizer. “São acções pontuais: não andei a pegar em pesos ou por caminhos irregulares”, acrescentou.
Ao telefone, descreve a sua “lesão” na coluna como “para o resto da vida”, vaticinando que nunca voltará a ser “normal”. Apesar disso, confirma que já não está de baixa e realça que “jamais faria uma campanha destas” se assim estivesse. “Uma coisa é ter uma acção de rua pequena, outra é campanha com mais ritmo”, completa. Na quarta-feira, Castro e Ventura estiveram numa arruada em Câmara de Lobos, onde foram acompanhados por cerca de 25 militantes.
Durante a arruada,
Política Campanha Das Legislativas Regionais Na Re
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2023-09-22T07:00:00.0000000Z
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