Estou a gostar de ler a edição europeia do Guardian, lançada anteontem. Gosto muito da facilidade instantânea com que posso reverter à edição UK ou passar para a edição USA, para deslindar os critérios. Katharine Viner, que já é directora desde 2015, está de parabéns: é um prazer ler o Guardian.

Para o leitor português, o Guardian tem a grande vantagem de ser grátis. O outro diário grátis, o Daily Mail, é reaccionário, sensacionalista e lascivo. Quem ler estes dois jornais ingleses, por serem grátis, fica com uma ideia transtornada, mas autêntica, da imprensa britânica.

O Mail é ultraconservador e logo brexiteiro, eo Guardian é socialista e pró-europeu. Para compor o ramalhete, é preciso ler também um jornal conservador inteligente (o Telegraph) e um jornal liberal inteligente (o

Times), embora ambos estejam mais estúpidos do que alguma vez foram. O único diário inglês que recomendo absolutamente é o Financial Times de sábado.

Mas esses jornais são pagos. E quem é que vai pagar para atingir um mínimo de moderação e equilíbrio?

Por outro lado, tanto o Guardian como o

Mail estão menos extremistas do que já foram. E acompanhados pelo liberalismo da Radio 4 da World Service da BBC, que continuam excelentes e gratuitas, fica-se com uma boa ideia do que se passa no Reino Unido sem ter gasto um único cêntimo.

A edição europeia do Guardian reforça a embaixada, nascida do império britânico quando se apresentava como a luz do mundo, mas agora mais destinada aos próprios ingleses do que aos selvagens dos estrangeiros.

São os ingleses, escoceses e galeses civilizados que precisam da edição europeia do Guardian. (A edição em língua inglesa do

Le Monde está cada vez melhor, mas paga-se.) São leitores educados, cosmopolitas, jovens e, obviamente, europeístas.

Mas também há muitos europeus cada vez menos interessados no que se passa num Reino Unido que tem cada vez menos que ver connosco que vão recomeçar a ler o

Guardian.