Éum grande erro falar no Verão de São Martinho. Porque é que recorremos ao Verão para elogiar os dias soalheiros das outras três estações do ano? Só se for para o Verão ficar sempre a ganhar. Mas que dizer de um povo que prefere passar 75 por cento do ano a compará-lo constantemente com os 25 por cento do Verão?

Como se pode começar a compreender e a dar valor aos dias bonitos do resto do ano, se está implícito que não chegam aos calcanhares do Verão?

Imagine-se que dividíamos a nossa vida em quatro partes em que a primeira parte, dos 0 aos 25 era a Primavera, dos 25 aos 50 era o Verão, dos 51 aos 75 era o Outono, e dos 76 aos 100 era o Inverno. Fazia algum sentido avaliar toda a vida em função do segundo quarto de vida?

O fim-de-semana aqui em Colares tem sido outoniço até mais não. Não acredito que haja lugar mais fresco sobre a terra.

Não é fresco-frio. É fresco-fresco. Não é preciso camisola. Mas pode-se apressar o passo. É uma frescura clara, clara e luminosa, luminosa e espevitante.

A frescura é uma das maravilhas da segunda metade de Novembro. Só pode ser apreciada por quem teve tempo — tempo a mais — para se fartar do calor do Verão. Só pode ser apreciada por quem já tem medo do que aí vem, do frio do Inverno que chega escondido atrás das pernas gordas do bebé do Ano Novo.

A neblina liquefaz-se, mas só em microgotas, ideais para respirar, limpando tudo. Há também, perto das praias, uma espécie de “chuvesia”: a maresia da chuva, tão longe e tão perto da chuva, como a maresia fica do mar.

É a neblina a chorar — mas é aquele choro de quem se comove, não de quem sofre. É a humidade miudinha a brincar à chuva. Há qualquer coisa de fingimento, de ver-se-pega.

Não é fria. É fresquinha. Mesmo no melhor aparelho de ar condicionado, é dificílimo atingir o fresquinho: a temperatura perfeita que não faz frio nem calor.

O fresquinho faz esquecer a temperatura, concentra-nos noutras coisas.

Mas foge, foge tão depressa como chegou.