Uma economia mais protegida de abanões políticos
Marta Moitinho Oliveira
2023-11-20T08:00:00.0000000Z
2023-11-20T08:00:00.0000000Z
Publico

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Espaço Público
Opós-7 de Novembro tem sido dedicado a medir os impactos da crise que se abateu sobre Portugal. Nas frentes política e judicial não há dúvidas de que o embate da Operação Influencer tem sido — e será — forte, por muito tempo. Mas há uma dimensão que parece, no imediato, escapar mais ou menos ilesa aos estilhaços provocados pela investigação do Ministério Público que levou à demissão do primeiro-ministro: a da economia. O desempenho da actividade económica passa, para já, ao lado da crise política. O acordo de rendimentos que prevê aumentos salariais para os trabalhadores nos próximos anos é para manter, e a primeira agência a avaliar a capacidade de Portugal pagar as dívidas já neste contexto político decidiu-se por uma subida do rating da República de dois degraus, colocando-o acima de Espanha. Embora em cada uma destas dimensões haja um sinal positivo de resistência nas frentes económica e orçamental, os riscos relacionados com a crise política não deixaram, ainda assim, de ser assinalados e não devem ser ignorados: os aumentos salariais podem ser mais contidos e as decisões de investimento podem ser adiadas. A resistência no plano económico a um embate político como o que se vive parece resultar de vários factores, alguns mais recentes e outros mais antigos. Internamente, a decisão de Marcelo Rebelo de Sousa de só dissolver o Parlamento depois de aprovado o Orçamento do Estado para 2024 foi criticada por alguns sectores mais vigilantes do cumprimento da Constituição, mas a Moody’s, por exemplo, mostrou satisfação com a aprovação do documento. Outro dos factores terá sido um consenso social trabalhado em sede de concertação social que, embora tenha deixado de fora a CIP e a CGTP, permitiu um alinhamento dos restantes parceiros em torno de objectivos comuns. Outra das razões é o facto de existir “uma adesão generalizada nos principais partidos políticos em Portugal ao posicionamento orçamental do actual Governo”, justificou a Moody’s. Para chegarmos aqui, Portugal passou por dois grandes ciclos políticos, liderados por Pedro Passos Coelho e por António Costa. Apesar das divergências nos programas e das diferenças nas narrativas, a redução do défice e da dívida pública presidiu sempre à condução das políticas económicas. A esta base sólida junta-se outra — o consenso na concertação social que permitiu um acordo alargado. Ambos revelam que é possível construir garantias de estabilidade que permitem blindar mais a economia e assegurar que esta tem resistências ao primeiro impacto de um abanão político como aquele que Portugal vive actualmente.
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