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Portugal: um país, quatro guerras

Sónia Sapage

No dia 7 de Novembro, com a demissão de António Costa, o país mergulhou numa guerra eleitoral que está a dividir o país político em dois blocos: um à direita e outro à esquerda. Com sorte, a disputa terminará no dia 10 de Março com um vencedor claro. Sem sorte, o impasse pode exigir muita negociação e compromissos políticos até se chegar ao ponto ideal de formar um governo. PS e PSD são as principais forças em disputa, embora a importância de outras não seja secundária.

Esta guerra eleitoral é apenas uma das quatro que se abriram há 12 dias em Portugal. A outra está a acontecer no interior do PS e, nesta fase, durará apenas até às eleições internas, a 15 e 16 de Dezembro. Na procura de um sucessor que esteja à altura de António Costa, o PS dividiu-se em dois grupos liderados por Pedro Nuno Santos e José Luís Carneiro (surgiu, entretanto, um terceiro candidato, Daniel Adrião).

Os principais exércitos estão já a formar-se e a tentar ganhar terreno sobre o adversário. Nesse exercício, Carneiro deu uma bicada ao ex-ministro das Infra-Estruturas, quando disse que “pagar o que devemos é essencial”, trazendo desta forma à memória a frase de Pedro Nuno Santos em 2011: “Os alemães que se ponham finos ou não pagamos a dívida.” E Pedro Nuno fez questão de se mostrar como um homem de acção, com espírito crítico em relação ao Governo, do qual Carneiro ainda faz parte.

A terceira guerra é evidente e também envolve o PS… e o Ministério Público. Seria exaustivo registar aqui todas as declarações de socialistas que já exigiram à Procuradoria-Geral da República explicações sobre o processo instaurado ao primeiro-ministro. Fica apenas uma de Ferro Rodrigues, neste sábado, na comissão nacional do PS. “Esta crise, a mais grave da nossa democracia quase cinquentenária, foi originada por um comunicado irresponsável, ou consciente dos efeitos que produziria, ou então analfabeto de responsabilidade da PGR, referindo o Supremo Tribunal de Justiça.”

Por último, a guerra dos palácios. Mais do que em qualquer outro momento, é agora claro que São Bento e Belém não estão no mesmo comprimento de onda. Os obstáculos que foram surgindo no caminho, sobretudo no segundo mandato presidencial, foram sendo ultrapassados com mestria e capacidade de encaixe de parte a parte, mas isso acabou. As máscaras caíram. Já não há aparências a manter. E por isso António Costa pôde dizer neste sábado que faltou o “bom senso” a Marcelo Rebelo de Sousa, acusando-o de ter lançado Portugal numa “nova crise irresponsável”.

Ninguém sabe que país sairá destas quatro guerras, mas não tenhamos ilusões: vai haver baixas e danos colaterais.

Espaço Público

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2023-11-19T08:00:00.0000000Z

2023-11-19T08:00:00.0000000Z

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