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Costa desmente Marcelo sobre PGR e culpa-o por “crise política irresponsável”

Secretário-geral do PS alega que não falou publicamente do pedido para chamar Lucília Gago a Belém

Maria Lopes

Tensão com Belém

Está cada vez mais tensa e cheia de críticas e recados a relação entre António Costa e Marcelo Rebelo de Sousa. Ontem o primeiro-ministro contrariou o Presidente da República, que disse que Costa tinha assumido publicamente que partira de si o pedido para que a procuradora-geral da República fosse a Belém dar explicações sobre o processo que envolve Costa no âmbito da Operação InÇuencer. “Terá de perguntar ao Presidente que comentário público terei eu feito; não me ocorre nenhum”, respondeu aos jornalistas.

De caminho, responsabilizou Marcelo Rebelo de Sousa por mais uma “crise política irresponsável” ao ter decidido pela dissolução “totalmente despropositada e desnecessária” do Parlamento. “Tudo recomendava que tivesse havido bom senso em não ter desencadeado esta crise política. Mas, uma vez desencadeada, o PS tem de fazer como fez nas últimas eleições: falar e mobilizar os portugueses. Porque, tal como resolveram a última crise política irresponsável, agora devem também resolver a nova crise política irresponsável.”

Ainda a reunião da comissão nacional do PS ia a meio quando António Costa saiu para falar aos jornalistas. E recusou dizer se o tal pedido sobre a PGR partiu ou não de si, alegando que nunca comentou as conversas que tem com o Presidente por ser uma questão de confiança entre “dois titulares de órgãos de soberania” — “Nunca falei, em oito anos, nem por mim, nem por heterónimos que escrevem nos jornais” [uma alusão às informações de Belém que escapam para a comunicação social].

Costa diz não saber “mais nada” sobre o seu processo e não quis “especular” sobre o assunto, mas admitiu que o último comunicado da PGR lhe deixou a percepção de que “durará muito e muito tempo. Se for diferente, seguramente ficarei a saber pela comunicação social, que é o meio de comunicação que a justiça tem mantido comigo”, ironizou.

António Costa participou ontem na reunião da comissão nacional do PS

Vi e vivi o mesmo filme parecido há 20 anos

Eduardo Ferro Rodrigues Ex-secretário-geral do PS, referindo-se ao processo Casa Pia

Aos dirigentes, num discurso à porta fechada, o líder socialista defendeu medidas e metas da sua governação, pediu que o partido se mantenha longe do debate sobre o processo judicial e que deixe que ele próprio faça a sua defesa. Depois de receber muitos elogios, apoios e aplausos, disse que a melhor “solidariedade” que os socialistas podem mostrar é voltarem a ganhar as eleições legislativas de Março.

Aconselhou o partido a aproveitar esta crise política para, no debate interno, “renovar ideias, corrigir erros, inspirar-se nas coisas seguramente boas que também aconteceram e apresentar-se aos portugueses de forma unida e capaz de assegurar uma vitória”. Que Costa considera possível atendendo às sondagens feitas na “pior semana possível para o PS”: “Não há nenhuma que não o dê à frente ou empatado tecnicamente”, realçou. “Seguramente, com uma nova liderança, uma nova energia, com um programa renovado, o PS terá todas as condições para vencer.”

Porque, argumentou, “a alternativa da direita é de instabilidade”. “Mesmo uma maioria parlamentar aritmética dependente do Chega pode ser uma maioria parlamentar, mas nunca será uma maioria governativa (…) Será um factor permanente de instabilidade (…) e ingovernabilidade”, vaticinou Costa. “Porque o Chega não existe para governar; existe para contestar, para perturbar”, como está a acontecer nos Açores.

A comissão nacional confirmou a marcação das eleições directas para 15 e 16 de Dezembro e do congresso para 5 a 7 de Janeiro.

Na reunião de quatro horas intervieram quase três dezenas de dirigentes. O antigo líder socialista Ferro Rodrigues destacou-se pelo ataque à cúpula da justiça: criticou duramente os “actos e omissões da Procuradoria-geral da República (PGR) e do Supremo Tribunal de Justiça” que “destruíram” o actual Governo de maioria absoluta ao levar António Costa à demissão.

“Exige-se que os mesmos que te levaram à demissão, com toda a urgência, te ilibem de quaisquer responsabilidades que não tens”, instou. Sem receios das palavras, haveria de dizer pouco depois: “Quando uma ‘justiça’ sem rosto põe em causa a democracia política, sinto o dever de a pressionar para ser clara, transparente, identificável”, argumentou Ferro sobre a necessidade de justificações da PGR e do Supremo. “Porque vi e vivi o mesmo filme parecido há 20 anos”, recordou, numa alusão ao processo Casa Pia, em que, tal como Costa então, esteve a ser escutado.

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2023-11-19T08:00:00.0000000Z

2023-11-19T08:00:00.0000000Z

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