Público Edição Digital

MarAmais, praia do Farol, Faro

Um refúgio “do outro mundo”

Este ano é inspirada nos barquinhos de papel, mas todos os anos a decoração muda, porque “dá muito gozo”, “é giro inovar o espaço” e “importante as pessoas entrarem num ambiente, de repente, um bocadinho diferente” a cada Verão. Para quem chega à praia do Farol, na ponta Oeste da ilha da Culatra, guiados pelo farol branco de chapéu vermelho que lhe dá nome, não há como não reparar no bar marAmais. As cores e desenhos exuberantes já se tornaram imagem de marca deste recanto junto ao areal, repleto de pormenores e frases penduradas onde quer que se pouse os olhos. “Não era preciso muito para tornar isto um sítio especial, bonito, em frente ao mar”, diz Carla Martins.

O espaço é uma esplanada generosa colada à praia, sombreada por lonas e telheiros de palhinha, com mesas e cadeirões de madeira. Este ano, com sessões de música ao vivo todos os dias. “Conheci o Lucas no ano passado em Arraial d’Ajuda (Bahia, Brasil). Ele estava a tocar e achei lindo, porque tem um reportório muito giro”, com músicas em sotaque brasileiro, mas também espanhol, francês, clássicos em inglês, conta.

Na carta, “muito simples”, as tostas são um best of desde o primeiro ano, com receitas “um bocadinho diferentes”, como a de chèvre e mel ou a de queijo, banana e canela (até a típica mista traz tomate e orégãos, aponta), mas também há ceviche, tapas ou a “tábua de salvação” com queijos e enchidos. No bar, “os cocktails são uma das imagens de marca”, com sangria, caipirinhas, mojitos e sumos naturais, entre outros.

Desde pequena que Carla vinha passar férias ao Farol porque os pais “construíram aqui uma casa há muitos anos”. “Nunca tinha encarado isto propriamente como um local de trabalho”, recorda. Até que apanhou com a irmã o mesmo “barquinho da carreira” que a antiga proprietária, “já muito cansada disto” e com vontade de “se desfazer do negócio”. “Foi um tiro de sorte.” Naquela noite, já não dormiram a pensar no assunto. Carla era guia-intérprete, a irmã tradutora, não tinham muita experiência na área, mas vontade de mudar. “E se agarrássemos este negócio?” Mudaram-se de Lisboa para o Algarve e o marAmais nasceu em 2005.

Dezassete anos depois, o Farol “é ainda um paraíso na terra”, defende. “No pino do Verão enche, mas em Junho ou Setembro o tempo continua a estar fantástico e estão meia dúzia de pessoas na praia.” É “o especial disto”. “O facto de se ter de apanhar um barco da carreira cinge muito as pessoas aos horários, ao preço do barco, se é uma família inteira, se calhar, já sai um bocadinho mais dispendioso.” Depois, “tudo na ilha custa um bocadinho mais caro, porque é tudo transportado para aqui”, lembra. Os fornecedores “descarregam em Olhão” e Carla tem que ”providenciar transporte de barco e depois de moto4 desde a outra ponta da ilha”.

Na praia, junto ao molhe que divide o areal, já perto do Bar do Tiago, a outra concessão do Farol, há um grupo à conversa entre chapéus com aquela familiaridade de quem se cruza há muitos anos neste recanto estival. Ao centro, é Feliciano Júlio que relata o “bafo quente, quente” que tem feito estas semanas. “Agora, como todas as noites tem levantado vento, é que começou a refrescar um bocadinho.”

Feliciano é o presidente da Associação da Ilha do Farol de Santa Maria e uma das principais vozes na luta contra as demolições de casas sem licenciamento na ilha. Esperançado de que esteja para breve a resolução de “um problema com mais de 40 anos”, vai apontando outros papéis que a associação desempenha, como a instalação recente de postos de iluminação pública a funcionar com energia solar ou os diferentes serviços que disponibiliza, como o único minimercado da ilha, o único quiosque, o campo de jogos ou o parque infantil, além da enfermaria “que dá apoio a todos os banhistas que se deslocam à ilha” na época estival.

Este Verão, uma das preocupações tem sido a sustentabilidade da ponte de acesso ao cais de embarque, para o qual têm vindo a alertar desde 2017. “Este ano, veio mesmo a ceder cerca de 10 centímetros”, conta, apontando o fecho do acesso ao lado direito da estrutura, que tem provocado “muito congestionamento” durante os períodos de maior Çuxo. À hora a que regressamos a Faro, em plena hora de almoço, no entanto, são muito poucos aqueles que esperam pelo barco (cerca de 40 minutos de viagem, para Faro ou para Olhão). A maioria, tal como Sandra Costa e a família, chegam de malas, sacos e sacos de coisas, por vezes encavalitados em pequenos carrinhos de transporte de mercadorias.

De Coimbra, onde moram, trouxeram os lençóis, as toalhas, as pranchas e todo o ritual balnear, AEzeram cálculos às refeições, e só agora regressam a território continental, uma semana depois. “Até isso é engraçado. Temos de pensar quantas refeições rápidas [vamos fazer], o que é que podemos levar ou comprar na ilha. Faz parte da mística”, aponta Sandra, lembrando que aqui “é tudo um bocadinho mais caro”, algo “justo e justiAEcável”, defende. Na mercearia do Farol, compram apenas o pão, a fruta, alguma carne para grelhar ao jantar. “Não há hora para nada.” Nem programação intensa de actividades ou lugar ao tédio. “O único aborrecimento é ir embora”, atira a avó Beatriz.

Para Sandra é um descanso. “A água é tranquila para os meus AElhos poderem desfrutar sem estar preocupada com as ondas e as correntes.” Depois não há relógio, problemas ou “aquela azáfama do dia-a-dia”. Não “há carro” nem necessidade “de andar à procura de estacionamento”. Não há sequer bicicletas. “É outro mundo”, resume. “Aqui é mesmo o refúgio.”

Há oito anos que a semana em torno do aniversário do marido é passada em família no Farol. Nos cafés ou no bar de praia onde costumam ir habitualmente, já os conhecem. “O senhor das bolas-de-berlim já sabe que são duas de alfarroba, duas de chocolate”, ri-se. “Acaba por ser engraçado e familiar.” É como “estar em casa sem estar em casa”. “Como dizia ali o rapaz do Cais Aqui: ‘Nota-se que já estão com os olhos meio tristes de se irem embora’.” M.G.

Desde pequena que Carla vinha passar férias ao Farol porque os pais construíram aqui uma casa. “Nunca tinha encarado isto como um local de trabalho”

marAmais

Praia do Farol, Culatra (Faro) Tel.: 915 239 684

Facebook: @marAmaisFarol Horário: todos os dias das 10h às 24h (desde a Páscoa a finais de Outubro)

Bares De Praia

pt-pt

2022-08-06T07:00:00.0000000Z

2022-08-06T07:00:00.0000000Z

https://ereader.publico.pt/article/281573769461137

Publico