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UM BRINDE AOS REENCONTROS

TEXTO TERESA CASTRO VIANA FOTOGRAFIA MARIA JOÃO GALA

A vida levou Paulo e Lígia Santos, pai e filha, para cidades grandes no litoral. A ligação à terra e o amor ao vinho fê-los regressar às origens, em Nelas, para fundar a Caminhos Cruzados, uma empresa orgulhosamente nascida no coração do Dão.

Em 2012, o meu pai deu o passo de alugar uma antiga adega e começar a fazer vinho como produtor registado”, conta Lígia Santos, CEO da Caminhos Cruzados, desenrolando a ponta do novelo de uma histlria de vida. “Muito antes disso”, porém, já faziam vinho, no lagar do avô. “Era engarrafado em garrafões de cinco litros e acompanhava todas as refeições.” Profissionalizar um costume familiar, que se confunde também com o legado da região, “foi uma forma de estreitar a ligação a Nelas”, diz Lígia. “Estávamos a morar fora havia muitos anos.” Paulo Santos trabalhava no Porto, numa empresa têxtil, e Lígia exercia advocacia em Lisboa. Pai e filha cruzaram os seus caminhos à mesa, com o vinho, a partir da Quinta da Teixuga, em Vilar Seco. De início, “numa adega antiga no centro de Nelas, num espaço alugado” explica Luís Filipe. “Em 2014 iniciaram a construção deste edifício, inaugurado em 2017”, continua o coordenador do enoturismo na Caminhos Cruzados, referindo-se à nova adega, com vista para o vinhedo, que acolhe também a sala de provas e loja. A adega, de arquitectura contemporânea e perfeitamente ajustada à envolvente – são 31 hectares de quinta e 15 de vinha “com uma média de idades de 50 anos”, revela –, tem capacidade para vinificar 400 mil litros. Além das uvas de produção prlpria, onde se destacam castas tintas como touriga nacional, tinta roriz, jaen e alfrocheiro, e as brancas malvasia fina, encruzado e bical, também compram uvas a viticultores da região. “É cada vez mais importante apoiá-los, para que mantenham as suas vinhas e as cuidem de forma informada”, defende a CEO. Recentemente, a Caminhos Cruzados passou a integrar o grupo Terras e Terroir, de que fazem parte a Quinta da Pacheca, no Douro, e a Quinta do Ortigão, na Bairrada. “Fazer parte deste grupo, onde trabalhamos junto de produtores de outras regiões, com perfis totalmente diferentes e know-how muito especializado, tem sido incrível.

Aprendemos diariamente uns com os outros e desafiamo-nos a fazer cada vez melhor”, conclui Lígia. A era do novo Dão A Caminhos Cruzados assume-se desde o início como “o novo Dão”, uma folha em branco numa das regiões mais antigas do país. “Quando começámos, não tínhamos três gerações de vinho atrás de nls, nem brasões centenários ou uma histlria que nos definisse”, admite Lígia. “Éramos totalmente livres para criar a nossa visão do Dão.” O que fizeram? Produziram “vinhos fora da caixa”, plantaram castas diferentes e comunicaram “de forma descontraída e jovem”, muito à sua imagem. “Fazemos vinhos muito respeitadores do Dão, mas gostamos de cruzar a tipicidade com coisas mais arrojadas”, acrescenta Luís Filipe. A marca Clandestino, com “castas que não são tão típicas da região” e o Dão Novo, um vinho da série Titular, “vinificado num processo parecido ao de Beaujolais”, por maceração carblnica, são bons exemplos desse atrevimento. As gamas Caminhos Cruzados e Teixuga, o topo de gama, completam o portefllio da casa. O vinho como elo de ligação Como valências de enoturismo, a Caminhos Cruzados tem programas adaptados a diversos públicos e patamares de preço – tanto podem passar por visitas com prova como prolongar-se por almoços com harmonização de vinhos (45 euros) e piqueniques na vinha (35 euros/2 pessoas). Na vertente premium (25 euros), a prova é acompanhada de petiscos como queijo Serra da Estrela e paiola das Beiras. Nesta prova, tal como nos almoços, há sempre versão vegetariana disponível. Para quem pretender explorar a envolvente, há ainda a modalidade peddy paper (20 euros), que começa com um jogo de descoberta de pistas na vinha e termina com prova de vinho, para recuperar energias. Na vertente lúdica, destacam-se também o jogo de aromas (20 euros), cujo objectivo passa por desenvolver o olfacto, aprendendo a identificar os aromas do vinho, e o programa de enologia criativa (35 euros), onde, resume Luís, “o visitante pode fazer diferentes lotes, prová-los, engarrafar e levar a garrafa para casa”.

Enoturismo

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2022-08-06T07:00:00.0000000Z

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