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Joana Cunha Carlos Lucas

Uma comunicação democrática

TEXTO JOSÉ MIGUEL DENTINHO FOTOGRAFIA ANNA COSTA

JOs enllogos Joana Cunha e Carlos Lucas defendem que a região deve comunicar de modo mais alargado, que os vinhos do Dão não são apenas de guarda, mas também para beber enquanto jovens e com muitas gastronomias

untámos os enllogos Joana Cunha, 40 anos, da Quinta do Mondego, e Carlos Lucas, 55 anos, da Magnum Vinhos, para uma conversa sobre as virtudes do Dão, o que está e pode mudar com as alterações climáticas e o papel de uma boa comunicação para a sustentabilidade do neglcio. Para Joana Cunha, uma das grandes virtudes da região são as suas castas autlctones. Salienta, entre outras, a branca encruzado e a tinta touriga nacional, a mais mediática e reconhecida cá e lá fora. “Apesar de já ser utilizada um pouco por todo o país, é muito característica da região, onde produz vinhos distintos”, conta a enlloga. Para além destas, destaca também as tintas jaen e alfrocheiro, tanto para vinhos de lote como para monocastas, quando a sua qualidade se evidencia. O desafio do aquecimento global Mas não basta ter boas castas, distintas, para se fazer vinhos de qualidade e que se diferenciem. Para Joana Cunha, os solos graníticos do Dão também contribuem muito para isso, sobretudo porque ajudam a reter melhor as reservas de água, algo essencial nos tempos que correm. “Assusta-nos porque não há água suficiente nos solos devido a ter chovido pouco no Inverno”, diz. O aquecimento global, provocado sobretudo pelo crescimento das emissões de gases com efeito de estufa, e as mudanças climáticas que estão a decorrer são desafios que o sector de vinhos já está a enfrentar. Agora é o tempo certo para preparar o caminho e encontrar soluções que atenuem os efeitos das mudanças que estão a acontecer no terreno, para assegurar a produção constante de uvas e a sustentabilidade do neglcio no futuro. Vinhos com frescura “Outra das características da região do Dão é acidez, a frescura dos seus vinhos, que mostram também bem o seu terroir de mato e floresta, aquilo que rodeia as vinhas, para além do potencial de envelhecimento que têm, devi

do ao seu bom equilíbrio entre o álcool e a acidez”, diz Joana Cunha. Mas o neglcio do vinho é muito mais do que fazer um bom maneio da vinha, para que produza uvas com as melhores características, e trabalhar, na adega, para que os vinhos expressem todo o potencial de proporcionar prazer a quem os bebe. É, também, saber comunicar bem, a empresa, os seus proprietários, os seus enllogos e viticllogos, mas sobretudo as suas marcas, que são difíceis de construir. Esse trabalho, que leva tempo, implica investimento de comunicação através da publicidade e comunicação institucional, e implica o estabelecimento de relacionamentos com clientes, consumidores, mas também escanções, críticos, jornalistas e bloggers da especialidade, pode representar, muitas vezes, o sucesso de um vinho, uma empresa, uma região, ou mesmo de um país. E representa, muitas vezes, a diferença de preço entre dois vinhos com origem e características semelhantes, e a mesma qualidade perceptível. “As pessoas concentram os seus investimentos na vinha e na produção e esquecem-se que deviam guardar 50% dos seus orçamentos para marketing e comunicação”, defende a proprietária e enlloga da Quinta do Mondego. Mas Carlos Lucas argumenta que é necessário mudar a comunicação que se faz na região, “sobretudo, quando diz que é necessário que as pessoas aprendam a beber vinhos do Dão”, explica, acrescentando que deve também ser feita para mostrar que os seus vinhos são acessíveis. “Depois de os beberem, constatam a diferença”, defende.

Da moda e de guarda

A noção que o público tem dos vinhos do Dão é que precisam de ser guardados, e consumidos anos mais tarde, para mostrar todo o seu potencial. São, muitas vezes, comparados aos da Borgonha, que realmente ganham com o tempo, quando são bons, e custam, muitas vezes, centenas de euros. Apesar de os vinhos do Dão terem, realmente, grande potencial de envelhecimento, a comunicação apenas deste facto “pode afastar aquele consumidor que bebe vinho habitualmente, mas não percebe da matéria”, defende Carlos Lucas, acrescentando que a mensagem deve ser alargada a todos os consumidores que compram vinho, e não apenas aos que percebem, e diga também que “os vinhos do Dão estão na moda, têm frescura, e podem ser bebidos em qualquer ocasião e acompanhar uma gastronomia diversificada”. Joana Cunha defende o mesmo e diz que “a região tem de ter vinhos que envelheçam, mas também outros que possam ser lançados jovens, para que os consumidores os provem, e não os guardem apenas”. Com isso em mente, lançou, este ano, um tinto de 2021 de touriga nacional, tal como Carlos Lucas faz com um dos seus vinhos de encruzado, “porque leva a que as pessoas abram estas garrafas e as queiram repetir”. E, para além de poderem ser bebidos agora, muitos destes vinhos têm a capacidade de dar prazer a quem os bebe durante muitos mais anos.

Conversas F Volta Do Dão

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2022-08-06T07:00:00.0000000Z

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