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Sustentabilidade no imobiliário tem de ser prática generalizada

A sustentabilidade e a resiliência têm de estar na agenda de todos os intervenientes, deixando de pertencer a um nicho para se tornar ‘mainstream’, garante Manuel Duarte Pinheiro, professor do Instituto Superior Técnico.

O imobiliário e os edifícios respondem a questões de funcionalidade. Isto quer falemos de residências, escritórios, comércio ou mesmo indústria. Mas, hoje, essa funcionalidade tem de assegurar outras dimensões, diz Manuel Duarte Pinheiro, professor no Departamento de Engenharia Civil e Arquitectura e Georecursos do Instituto Superior Técnico. Nomeadamente, tem de assegurar a qualidade do ar, o conforto hidrotérmico ou, por exemplo, uma boa iluminação. Isto para além da resiliência que tem de estar associada aos edifícios, que lhes permitam ultrapassar eventos extremos, como precipitação e ondas de calor. “As portadas que temos hoje têm de ser mais resistentes a ventos, por exemplo, assim como as caleiras têm de assegurar uma maior drenagem”. Mas Manuel Pinheiro diz que a funcionalidade é apenas uma das valências a que o imobiliário tem de atender. “Para ser sustentável, temos de ter seis grandes dimensões: boa integração local, eficiente no uso dos recursos, aproveitar as cargas que geramos (resíduos), ter uma boa qualidade de serviço, contribuir para as vivências socioeconómicas (acessibilidade, mobilidade de baixo impacto) e ter capacidade de ajustar ao uso, integrando a tecnologia de informação”. Se atendermos a esta visão integrada, a verdade é que ainda há pouco edifícios a cumprirem todos estes ‘requisitos’, salvo raras e honrosas exceções mencionadas pelo professor, como o Lisbon Green Valley, do grupo André Jordan. “Há sistemas, como o LiderA, que permitem quantificar e evitar que haja, de alguma forma, o ‘greenwashing’ em relação a esta dimensão”.

Os grandes desafios

Sobretudo, o grande desafio passa por ultrapassar o facto de a cadeia de produção do imobiliário não ter uma tradição de produzir bom desempenho. Segundo Manuel Pinheiro, quando olhamos para a prestação na área da energia e olhamos para a certificação energética, percebemos que 86% dos edifícios que estão no mercado não atingem sequer a classificação D-. “Quer dizer que não têm condições de conforto e não são eficientes energeticamente”. Isto quando, no mercado residencial, existem atualmente seis milhões de fogos, o que potencia a pobreza energética. “Destes, as intervenções que estão a ser feitas no mercado, de forma mais estrutural e sujeitas a licenciamento, andam na ordem das 20 mil”. Feitas as contas, seriam necessários entre 100 a 300 anos para reabilitar o mercado.

Covid potenciou obras

Um dos efeitos que o período de pandemia teve foi na perceção das famílias que o espaço casa tem e pode ser flexível, para além de ter potenciado a realização das pequenas obras. “Houve um aumento na venda de materiais nas superfícies comerciais para pequenas reabilitações, para remodelações. A Covid não parou as pequenas obras, as micro-obras. Pelo contrário, aumentou”. Como é que estamos na área da sustentabilidade no imobiliário? Manuel Pinheiro diz que “temos sinais positivos, mas que ainda existe muito a fazer”. Na opinião deste especialista, há promotores que já entenderam a sua importância, alguns reguladores e muitos dos municípios já têm este tema na sua agenda, há projetistas e fornecedores de materiais muito sensíveis à matéria... mas a verdade é que a sustentabilidade ainda não é, nas palavras de Manuel Pinheiro, ‘mainstream’, ou seja, uma prática generalizada. “Em relação aos edifícios verdes, há que passar do nicho para o ‘mainstream’. A sustentabilidade e a resiliência têm de estar na agenda”.

Assim, Manuel Pinheiro defende, mais do que tudo, a educação e a sensibilização de toda esta cadeia.

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2021-12-18T08:00:00.0000000Z

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