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The Weeknd mostrou como há poucos manipuladores no activo como ele

Portugal recebeu (pela terceira vez) uma das grandes figuras da música pop dos últimos anos

Alexandre Ribeiro Texto Matilde Fieschi Fotografia

Quando já se tem um catálogo extenso, pode-se dizer que as canções seleccionadas por um artista para o alinhamento de um concerto precisam de ter algum tipo de significado mais profundo por detrás. Dito isto, podemos então assumir que The Weeknd ter anteontem começado a sua actuação no Passeio Marítimo de Algés com Take my breath foi escolha ponderada e uma séria declaração de intenções da sua parte. Depois desse começo, o fôlego ia mesmo faltar a muitos dos milhares de pessoas que decidiram vê-lo ao vivo.

No início da década passada, Abel Tesfaye apareceu em grande estilo sem mostrar a cara e com uma trilogia de projectos em que apresentava um r&b digitalizado que puxava para terrenos mais alternativos do que aquilo que era comum na altura, seduzindo (sem pudores nem segredos) uma geração e, consequentemente, as majors; Kiss Land, um disco de transição, foi, muito provavelmente, o momento em que percebeu que teria de decidir que tipo de superestrela queria ser no futuro. Beauty Behind The Madness e Starboy garantiam que os argumentos estavam lá e que existiriam poucos com o calibre pop dele — a consolidação veio em tempos pandémicos com After Hours e Dawn FM, os álbuns de synthpop retrofuturista que servem de gancho para esta digressão.

No primeiro vislumbre que tivemos do músico canadiano neste regresso a território português (estreou-se por cá em 2012 e voltou em 2017), a máscara (semelhante àquela que o rapper e produtor MF Doom usava) foi o elemento que saltou logo à vista — antes da sua entrada, já tínhamos passado algum tempo a reparar no esqueleto/ escombros da cidade que ocupava a zona principal do palco e também na robô gigante (da autoria de Hajime Sorayama) pela qual iria ter de passar para chegar perto de uma lua (igualmente gigante) insuflável; sim, esta é mesmo a descrição (resumida) deste parque de diversões/local de trabalho de um dos artistas mais populares da actualidade.

Fomos convidados a entrar numa viagem de ida (e sem regresso) a praticamente todas as suas eras em cerca de duas horas, começando-se no seu mais recente disco, Dawn FM, com a faixa mencionada no parágrafo inicial e, logo de seguida, fazendose o necessário Sacrifice, um tema que uniu Michael Jackson e Daft Punk sem ter nenhum dos dois na ficha técnica. Porém, a primeira vez em que se sentiu verdadeiramente o público português foi quando cantou Can’t feel my face, parte de Beauty Behind The Madness, álbum a que ainda voltaria para The hills e Often (numa versão diferente a puxar por um lado gótico que lhe assentou bem). Também deu para ir até canções de outros em que participou, brilhando de maneira bastante intensa com a interpretação da sua parte em Hurricane, canção de Kanye West, e tirando da cartola outros truques certeiros como as idas até Crew love (de Drake), Creepin’ (de Metro Boomin), Low life (de Future) ou Lost in the fire (de Gesaffelstein).

Com uma estaleca de quem já anda nisto há algum tempo — e que sente prazer na hora de comandar as tropas e ter os holofotes todos em cima de si —, o cantor não parou de andar de uma ponta à outra do seu perímetro de acção, mostrando-se numa pose que normalmente associamos mais a rappers e deixando os bailarinos a ocuparem-se de coreografias (mesmo que tenha dado uns apontamentos de dança aqui e ali), fazendo ainda questão de dar aqueles miminhos que qualquer plateia adora (introduzir “Lisbon” ou “Portugal” numa letra ou só mencionar estas duas palavras entre músicas bastou para a elevação colectiva dos espíritos, vá-se lá perceber). Quando teve de ser, a empatia deu lugar a outro tipo de atitudes mais dominantes, nomeadamente quando mandou os presentes cantarem Call out my name como se tivessem sido eles a escrevê-la — asseguramos que à nossa volta ninguém fugiu ao desafio, metendo-se o coração na boca em comunidade.

No mindset certo

A coesão do espectáculo é algo que realmente merece um tipo de nota à parte: não se deixou espaço para a possibilidade de acontecerem momentos mortos, girando tudo à volta da dinâmica do frontman com a restante banda — e faziam parte dela Mike Dean, o auto-intitulado “Synth Goat”, e Ricky Lewis, o baterista-máquina que teve de respeitar aquilo que as caixas de ritmos deram ao som de The Weeknd ao mesmo tempo que emprestava a sua própria pujança à fórmula. Mais: os sintetizadores são incontornáveis naquilo que escutamos ao vivo, unindo as peças e criando texturas que vão buscar inspiração àqueles filmes de antes do início deste milénio que projectavam futuros distópicos, ou então a videojogos — e assim fica mais fácil entrar no mindset certo sem que seja preciso introduzir essa parte visual específica no concerto. O que não quer dizer que não haja, por exemplo, um excelente trabalho de luzes ao longo do espectáculo. E fogo. Muito fogo.

Num generoso e completo alinhamento que contou ainda com faixas como How do I make you love me?, Starboy, Heartless, Party monster, I feel it coming, Die for you, Is there someone else?, Save your tears, houve também espaço para Out of time — Tesfaye assumiu que era esta a sua música favorita —, House of balloons (sempre bem-vinda) e, claro, Blinding lights, o momento em que a apoteose foi total — e a prova que a dose certa de nostalgia é irresistível para qualquer que seja a idade (e não parecia faltar representação das mais diferentes faixas etárias no recinto).

A “presença” feminina

A narrativa do espectáculo já seria notável se olhássemos apenas para a sequência escolhida de faixas, para os arranjos e para a estrutura — o que se pode pedir mais num grandioso espectáculo pop? No entanto, o artista de ascendência etíope delineou ali um subtexto nem sempre óbvio, mas que pareceu estar intimamente relacionado com uma certa devoção à tal figura feminina de grandes dimensões (e com um papel central neste concerto). Como se ela fosse a representação de alguém em concreto ou de um conjunto de pessoas que terá perdido/afastado por negligência própria. Passou muito tempo do concerto perto dela — e ela, muitas das vezes, girava para acompanhá-lo nas suas movimentações pelo palco.

No encore, depois de uma saída debaixo de sintetizadores tensos, o foco passou para músicas da banda sonora de The Idol, Double fantasy, com Mike Dean a pegar no saxofone para fazer outros truques, e Popular, que nos remeteu para os anos de ouro em que Justin Timberlake, Pharrell Williams e Timbaland eram inseparáveis. A série em que é co-protagonista (e um dos criadores) foi recebendo muitas críticas negativas ainda durante o processo de gravações — e depois da estreia, isso ainda piorou —, deixando no ar a ideia de que a maior criação (e personagem) de Abel Tesfaye é mesmo The Weeknd.

Nesse papel que está a interpretar há mais de dez anos, não há ninguém como ele na sua geração. Pode-se mesmo dizer que há poucos manipuladores de primeira linha no activo como ele: diz que sangra por nós, que nos ama, que vai voltar o mais rápido possível para perto de nós. Mas sabemos que diz isso a todos. E com medo que a magia se desvaneça, e que nunca mais ouçamos esta voz, deixamonos enganar mais uma vez.

Há outra versão de descanso no Pine Cliffs Resort, em Albufeira, e envolve saltos, rastejar e virar pneus de 25 quilos. Não se preocupe, porque continuam a ser férias no Algarve e depois há recompensas, como um mergulho numa das várias piscinas do hotel e, quem sabe, um copo de sangria. O Bootcamp Insanity é um dos 20 programas de bem-estar do Serenity e é procurado sobretudo por visitantes do Norte da Europa, adeptos deste tipo de treino militar. Não é o nosso caso, mas tentámos.

O bootcamp não é mesmo um treino para leigos e isso vê-se logo antes de se chegar ao local onde está construído o circuito, à sombra dos pinheiros, com vista para o campo de golfe. “Isto é para atletas de nível intermédio a avançado”, avisa Josué Rosa, responsável pela equipa de personal trainers do Go Active, a chancela de ginásios do premiado grupo de spas Serenity.

A primeira de nove estações do circuito é constituída por troncos de árvores com diversas alturas. Deve-se passar a correr, saltando de tronco em tronco. “Fácil”, pensamos. Depois, seguem-se várias barreiras também para saltar — mais difícil, mas seguimos para os postes que se devem contornar durante a corrida. É então que encontramos um exercício digno de um campo militar: uma zona para rastejar, o mais rápido possível.

Velocidade é, aliás, um elemento-chave do treino, uma vez que todo o circuito deve ser percorrido em 2’20’’. É rápido, sim. “Treinamos a parte cardiorrespiratória, a força, coordenação, mobilidade e agilidade”, explica Josué Rosa, acrescentando que normalmente se fazem nove rondas ao circuito.

A competição é outro dos elementos essenciais do treino e o que atrai muitos dos atletas. Formam-se equipas e quem completar os circuitos em menos tempo vence. Para o fim ficam os exercícios mais difíceis: suspender o corpo e ter de atravessar as várias barras, virar pneus com 25 quilos ou, claro, agitar as clássicas cordas pesadas. Tudo isto antes de ter de

Todas as versões do Bootcamp Insanity incluem treinos diários, mas há espaço para massagens, ir à piscina de água termal ou à sauna

fazer o maior número de abdominais possíveis em 30 segundos.

Se sobrevivemos, todos conseguem. E, se não for profissional, o treinador adapta cada pormenor ao seu ritmo. Quem procura o programa Bootcamp Insanity são sobretudo alemães, ingleses, irlandeses, neerlandeses, que estão habituados a fazer este tipo de treino militar. “São pessoas que gostam do desafio, de sair da sua zona de conforto e da competição, até consigo próprias”, começa por dizer Maria d’Orey, directora do Serenity Spa e Fitness.

O programa pode ser reservado para três, cinco ou sete noites, a partir de 788€ — com excepção dos meses de Julho e Agosto. A versão de três noites, além de incluir a avaliação física com um personal trainer, duas aulas particulares de bootcamp, duas aulas de superalongamentos e duas sessões de treino personalizado, contempla uma massagem desportiva e outra holística.

Os treinos de estilo militar ao ar livre surgiram na época da pandemia, fruto de uma necessidade de não confinar os atletas ao interior do ginásio e seguindo também uma tendência do sector. “Começámos com quatro estações e tivemos de aumentar para nove. Dada a afluência, decidimos criar um programa para quem quer ultrapassar limites de performance e tem tido bastante adesão”, avança Maria d’Orey ao PÚBLICO. E assevera: “Algarve não é só sol e praia.”

Crescimento: pandemia

O crescente sucesso destes programas de bem-estar e de

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2023-06-08T07:00:00.0000000Z

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