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Efacec vendida à alemã Mutares com uma proposta que “dá grande conforto”

Reprivatização da Efacec foi anunciada ontem pelo Governo, quase três anos depois da nacionalização

Rosa Soares

Depois de três anos nas mãos do Estado, a Efacec vai ser vendida à alemã Mutares, anunciou ontem o Governo. Pelo caminho ficaram os fundos Oaktree e o Oxy Capital, bem como o agrupamento nacional da Visabeira-Sodecia.

Os contornos precisos da venda, incluindo o plano de recapitalização da empresa, não foram revelados.

O conjunto inicial de interessados naquela que foi a segunda tentativa para reprivatizar a empresa, depois do falhanço das negociações finais com o grupo português DST, incluía ainda a Mota-Engil, que acabou por desistir.

Em causa está a reprivatização de 71,73% do capital da empresa, detidos até 2020 pela empresária Isabel dos Santos, que deixou de conseguir gerir ou vender a empresa na sequência de processos judiciais avançados pela Justiça angolana, que incluíram o arresto de bens e contas bancárias, no âmbito das investigações de um consórcio de jornalistas internacionais que ficaram conhecidas por Luanda Leaks.

A escolha da Mutares foi aprovada em Conselho de Ministros (CM) electrónico, realizado ontem, e anunciada pelo ministro da Economia, António Costa Silva, que destacou a dimensão da holding industrial alemã, cotada na bolsa de Frankfurt.

O facto de se tratar de um grupo especializado na compra de empresas em dificuldades não preocupa o titular da pasta da Economia, que destacou a experiência na recuperação e valorização das empresas adquiridas, numa lógica “de médio e longo prazo”. E deu mesmo o exemplo das 75 operações feitas nos últimos anos “com elevado sucesso”.

Perdão parcial

“A proposta que a Mutares apresentou dá-nos grande conforto e convicção sobre o futuro da Efacec”, afirmou o ministro, que disse esperar que o processo de venda possa estar fechado em dois meses. Para isso é ainda necessário a aprovação da venda pela DG-Com, a autoridade da concorrência europeia, e pelo menos um perdão parcial de créditos pelos credores, revelou o governante, sem avançar detalhes sobre esta última condição. Entre os credores estão vários bancos nacionais, incluindo a Caixa Geral de Depósitos.

Outro dos credores da empresa é próprio Estado, que, segundo as declarações de Costa Silva na conferência de imprensa realizada após o CM, até ao momento injectou directamente 132 milhões de euros na Efacec, além dos 85 milhões de euros em garantias, o que dá um total de 217 milhões de euros.

Sobre este dinheiro injectado na empresa nos últimos três anos, o governante manifestou-se optimista na recuperação “de grande parte, se não a totalidade, do investimento que [o Estado] fez”.

Mas a forma de recuperação não ficou totalmente clara. O ministro referiu que os alemães ficarão com 100% do capital a privatizar, mas também que haverá “um mecanismo de partilha de valor inovador” para permitir ao Estado rever parte ou a totalidade do que investiu.

A possibilidade de escolha dos alemães já tinha sido antecipada pelo Eco e Jornal de Negócios, tendo sido agora confirmada. Em segundo lugar, avançou o ministro, ficou outro fundo de investimento estrangeiro, o Oaktree. O consórcio Visabeira-Sodecia, que recolhia a preferência de parte dos trabalhadores, por serem empresas industriais nacionais, ficou pelo caminho, o que terá ficado a dever-se ao objectivo de partilha de negócios, ideia que Costa Silva sempre afastou.

Sem revelar pormenores da proposta da Mutares para a Efacec, nomeadamente ao nível da recapitalização da empresa, que se encontra praticamente em gestão corrente há três anos, o ministro da Economia garantiu, no entanto, que o vencedor assegura “o futuro do grande projecto industrial e tecnológico” nacional, compromete-se na preservação da força de trabalho e minimiza os encargos para o Estado.

Ao longo dos últimos três anos, a empresa que este ano completa 75 anos de história, e que emprega mais de dois mil trabalhadores, acumulou elevados prejuízos, agravando significativamente a sua situação financeira.

O relatório e contas de 2022 dá conta de um prejuízo consolidado de 52,8 milhões de euros, a somar aos 183,9 milhões de euros negativos de 2021. O capital próprio ficou negativo em 52,1 milhões de euros, no final do ano passado, encontrando-se, assim, em falência técnica.

Ministro da Economia está optimista na recuperação do dinheiro injectado na empresa nos últimos três anos

Economia

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2023-06-08T07:00:00.0000000Z

2023-06-08T07:00:00.0000000Z

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