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Pence e Christie lutam pelo voto anti-Trump nas primárias republicanas

Favoritismo de Donald Trump e de Ron DeSantis leva outros candidatos a apostarem num eleitorado conservador cansado de divisões, e numa eventual implosão da campanha do ex-Presidente dos EUA

Alexandre Martins

O ex-vice-presidente dos Estados Unidos Mike Pence, um dos políticos do Partido Republicano mais próximos do movimento antiaborto e do eleitorado evangélico do país, anunciou ontem, formalmente, que é candidato à eleição presidencial de 2024.

À semelhança do que acontece com o ex-governador de Nova Jérsia Chris Christie — que também já confirmou a sua candidatura —, Pence tem poucas hipóteses de triunfar nas eleições primárias, num partido ainda dominado por Donald Trump e que vê no governador da Florida, Ron DeSantis, a única alternativa aceitável na eventualidade de uma implosão da candidatura de Trump.

No seu primeiro vídeo de campanha, Pence posiciona-se como um candidato do centro, num país “enfraquecido pelo Presidente Joe Biden e a esquerda radical”, e num Partido Republicano em busca “de um líder capaz de estimular as melhores virtudes dos cidadãos” — uma referência ao discurso de tomada de posse de Abraham Lincoln, a 4 de Março de 1861, quando o então Presidente dos EUA lançou um derradeiro apelo, sem sucesso, a que o país não mergulhasse numa guerra civil.

Numa referência a um outro líder do Partido Republicano, de um passado mais recente, Pence cita Ronald Reagan para transmitir uma mensagem de esperança no futuro e na capacidade dos norte-americanos para “darem a volta ao país”, que descreve como uma nação sob várias ameaças, internas e externas: da situação na fronteira com o México; do risco de uma recessão económica; da China, da Rússia e do Irão; e, “acima de tudo” — como o candidato faz questão de sublinhar no vídeo — “do maior ataque de sempre contra os intemporais valores americanos”.

Candidatura histórica

Numa outra época, anterior à eleição de Trump, em 2016, a proposta de Pence — com a sua mistura de fervor religioso, oposição total ao aborto e discurso militarista contra os inimigos externos — poderia ter encontrado uma audiência receptiva no eleitorado republicano; agora, e principalmente depois de o ex-vice-presidente dos EUA se ter recusado a reverter a vitória de Joe Biden na eleição de 2020, indo contra a vontade de candidatar-se novamente à Casa Branca”, disse ao New York Times Joel K. Goldstein, um professor na Universidade de Saint Louis, no Missouri, e um especialista na história dos vice-presidentes dos EUA. “E os vice-presidentes tendem a herdar o apoio dos eleitores que votaram nos ex-presidentes, e não a tornarem-se párias aos olhos deles.”

Aposta de risco

Da mesma forma, a candidatura de Chris Christie — um apoiante de primeira hora da candidatura de Trump em 2016, e que também se afastou do ex-Presidente dos EUA na sequência da invasão do Capitólio — tem poucas hipóteses de se impor como alternativa a Trump ou a DeSantis nas primárias republicanas.

Na noite de terça-feira, na apresentação oficial da sua candidatura, Christie confirmou que entra na corrida apenas para confrontar Trump, na esperança de enfraquecer a candidatura do ex-Presidente dos EUA, que acusa de ser “um solitário mesquinho e egocêntrico” e “uma marioneta de Vladimir Putin”.

Ao contrário de Christie, Pence não fez uma única referência directa a Trump na apresentação da sua candidatura, e vai tentar posicionar-se, nas eleições primárias de 2024, como um líder responsável, discreto e defensor dos valores conservadores — por oposição ao estilo histriónico do ex-Presidente dos EUA e aos seus problemas com a Justiça e divergências com o eleitorado ultraconservador em relação ao aborto.

As candidaturas de Pence e de Christie — e também a de outros republicanos com reconhecimento nacional nos EUA, como a ex-embaixadora norte-americana nas Nações Unidas Nikki Haley — indicam que alguns candidatos apostam numa eventual implosão da campanha de Trump, a reboque das quatro investigações judiciais de que é alvo, e pelas quais pode vir a ser acusado e levado a julgamento nos próximos meses.

Num cenário em que Trump fica fora da corrida, e em que o favorito da ala mais extremista passa a ser DeSantis, candidatos como Pence ou Haley podem beneficiar com o apoio de uma grande fatia do Partido Republicano que, segundo as sondagens, parece estar receptiva a uma liderança mais em linha com a tradição do Partido Republicano.

Mundo Presidenciais De 2024 Nos Eua

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2023-06-08T07:00:00.0000000Z

2023-06-08T07:00:00.0000000Z

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