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Suspensos dois cirurgiões de Faro denunciados por jovem médica

Conselho disciplinar regional do Sul da Ordem dos Médicos suspendeu preventivamente os dois cirurgiões por seis meses

Alexandra Campos

O conselho disciplinar regional do Sul da Ordem dos Médicos (OM) suspendeu preventivamente por seis meses dois cirurgiões do Hospital de Faro na sequência de denúncias de alegada má prática efectuadas por uma jovem médica. Um dos visados nas denúncias era o orientador do internato da médica Diana Pereira, que estava no primeiro ano da especialidade de cirurgia geral no Hospital de Faro, segundo o Expresso, que adiantou a notícia. O bastonário da Ordem dos Médicos revelou, entretanto, que a suspensão preventiva — que ontem foi tornada pública através de um edital assinado pelo presidente do conselho disciplinar — abrange o director do serviço e outro cirurgião do hospital.

“Tenho de louvar o trabalho feito pelo conselho disciplinar, que entendeu que não era necessário aguardar pelas conclusões da outra investigação [que está a ser feita por uma comissão independente], porque havia indícios suficientes de má prática para a suspensão preventiva. De alguma forma, é inédito que a Ordem dos Médicos trate este tipo de assunto com esta celeridade, mas era importante, tendo em conta o teor das denúncias”, disse ao PÚBLICO o bastonário Carlos Cortes. A suspensão dos justifica-se por razões de “segurança dos doentes”, mas igualmente para permitir que o conselho disciplinar prossiga com as diligências necessárias à avaliação dos vários casos denunciados, acrescentou.

Foi em Abril passado que Diana Pereira divulgou a denúncia, que inclui 11 casos de alegados erros e violação da leges artis [boas práticas médicas à luz do conhecimento científico actual] no serviço de cirurgia geral do hospital. Começou por apresentar uma queixa na Directoria do

Sul da Polícia Judiciária (Faro) e divulgou a denúncia nas redes sociais e na comunicação social. Queixou-se depois à OM e ao bastonário e enviou informação para a Entidade Reguladora da Saúde, a Administração Central do Sistema de Saúde e o ministro da Saúde. O Ministério Público abriu, entretanto, um inquérito.

De acordo com a médica, dos casos relatados e que terão ocorrido entre Janeiro e Março deste ano, “três [doentes] morreram”, três estavam “internados nos cuidados intermédios” e “os restantes tiveram lesão corporal associada a erro médico, que variam desde a castração acidental, perda de rins ou necessidade de colostomia para o resto da vida”.

Na sequência da denúncia, a OM constituiu de imediato uma comissão independente para investigar o caso, tendo o novo bastonário — que acabara de tomar posse —, justificado a decisão com a necessidade de dar “uma resposta rápida, célere e consequente”. Diana Pereira deixou entretanto de trabalhar no Hospital de Faro. O director do serviço de cirurgia geral daquele hospital assinou uma nota interna a informar que a jovem médica só poderia exercer “medicina tutelada, sob a supervisão de especialista”, o que implicou, na prática, o seu afastamento da unidade. “No meu serviço não exercerá mais, porque nem eu e nenhum dos cirurgiões a quer tutelar”, enfatizou.

A médica interna retorquiu que também não queria continuar a trabalhar no hospital e está agora a fazer a especialidade noutra unidade de saúde. “Quando fiz a queixa, a minha intenção era despedir-me de seguida, mas depois achei que não poderia ser prejudicada por toda esta história. Fico à espera da posição da Ordem dos Médicos.” O PÚBLICO tentou contactar a assessoria e o director clínico do hospital, sem sucesso. À TSF, a administração do hospital optou por não comentar o caso, alegando que o inquérito interno aberto pela unidade passou a estar a cargo da Inspecção-Geral das Actividades em Saúde (IGAS).

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2023-06-08T07:00:00.0000000Z

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