Aprimeira coisa a dizer sobre os nómadas digitais é que são invejáveis. Arranjaram coragem e conseguiram fugir. Desenraizaram-se para conhecer o mundo no tempo em que não estão a trabalhar. Quando deixam de trabalhar, já estão num lugar onde se passa férias. E assim podem estar sempre a trabalhar, sem perder tempo a pensar nas férias. Porque já lá estão.

Todos nós estamos mais à vontade na nossa terra, com as nossas rotinas, sabendo sempre (mais ou menos) o que nos espera. Os nómadas digitais abdicaram desse conforto e dessa previsibilidade, para poderem conhecer maneiras novas de viver.

O nómada digital é um turista de luxo. Escolhe cá viver. O turista que vem cá todos os meses passar o mês de Agosto leva 12 anos a estar cá um ano e, mesmo assim, torna-se conhecedor de quê? Do mês de Agosto?

Já o nómada digital, antes de escolher Portugal, compara-nos cuidadosamente com os outros países mais desejáveis. Espreitei um dos sites especializados (mas sem pagar assinatura), e fiquei impressionado com os termos de comparação, que vão ao pormenor. Seria perverso negar que é gratificante ver que Portugal se sai tão bem — e sem ser por ser barato, porque está cada vez mais caro.

Aos nómadas digitais pode-se pedir o que não se pede aos turistas: por exemplo, que ganhem um mínimo de quatro salários mínimos. Ao passarem cá tanto tempo — li que a média é oito meses — acabam por deixar cá boa parte do dinheiro que ganham. E alguns gostam tanto de cá estar que decidem mesmo viver cá.

As pessoas que se queixam dos nómadas digitais são aquelas que se queixam das pessoas em geral. De facto, quanto mais gente há a competir pelos mesmos recursos, maior é a concorrência, fazendo aumentar os preços e as filas de espera.

Mas não será melhor poder escolher as pessoas com quem se compete? Os nómadas digitais são simpáticos, curiosos, modernos e interessantes. A coisa mais inteligente que podemos fazer é recebê-los bem e aprender com eles.