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Um orçamento que se sinta no bolso

Sónia Sapage

Há várias semanas que as boas notícias sobre o desempenho da economia portuguesa se vão acumulando na comunicação social, mas não na percepção dos consumidores e dos contribuintes.

O Banco de Portugal actualizou as projecções de crescimento do PIB para 1,8% em 2023, em vez dos iniciais 1,5%. Seguiram-se a Comissão Europeia (CE) e o Fundo Monetário Internacional (FMI), que fixaram as suas previsões em 2,4% e 2,6%, respectivamente, quando anteriormente estimavam 1%.

Ontem, foi a vez de a Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Económico (OCDE) assumir que a economia nacional pode, afinal, melhorar a um ritmo de 2,5% em 2023 — e não de 1%. Lentamente, os números das várias instituições vão-se aproximando dos desejos do ministro da Economia, que há uma semana dizia ao PÚBLICO e à Renascença: “Espero sinceramente que se chegue ao fim do ano na ordem dos 3%. Estamos nos 2,5%, se tivermos 3% ou um bocadinho acima disso, seria um resultado magnífico.”

O bom desempenho do turismo e das exportações e os investimentos do PRR explicam, em parte, estas revisões em alta — que não são transversais a todos os países europeus (a CE colocava, inclusivamente, Portugal na lista dos que registarão um melhor desempenho em toda a União Europeia) .Mas a persistência da inflação e a subida contínua das taxas de juro não permitem que o nível de optimismo se mantenha em 2024. Ou seja: ainda a crise e a incerteza se sentem e já se antevê uma estagnação.

Isto significa que os bons números da economia podem tornar-se rapidamente um fardo para o

Governo de maioria absoluta e para as empresas, se a riqueza que o país está a produzir não for bem distribuída e se as condições e vida não melhorarem de forma consistente com a expectativa criada (uma grande fatia dos portugueses diz que não vê o sucesso económico no dia-a-dia e já começou a cortar nas despesas mensais).

O Orçamento do Estado para 2024 é o instrumento — e a oportunidade — para deixar a necessária palavra de conforto aos pensionistas e a outros beneficiários de apoios sociais, aos pequenos empresários, às famílias, aos funcionários públicos e aos restantes trabalhadores, sejam eles professores ou maquinistas da CP. Finda a comissão de inquérito à TAP e feitas eventuais avaliações relativas às consequências políticas de toda esta embrulhada, o fardo é outro: desenhar um orçamento que se sinta no bolso e que tenha boas notícias, como as previsões económicas.

O OE para 2024 é o instrumento para deixar uma palavra de conforto a pensionistas, famílias, pequenos empresários, funcionários públicos e restantes trabalhadores

Espaço Público

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2023-06-08T07:00:00.0000000Z

2023-06-08T07:00:00.0000000Z

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