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O regresso de Dilma Rousseff

A ex-Presidente do Brasil, destituída em 2016, viaja hoje para Pequim para assumir a presidência do banco dos BRICS

António Rodrigues

A antiga Presidente do Brasil Dilma Rousseff, afastada do poder em 2016 num processo de destituição (impeachment) e que em 2018 não conseguiu ser eleita para o Senado brasileiro, deverá viajar hoje para a China, onde irá assumir o cargo de presidente do Novo Banco de Desenvolvimento (NDB, na sigla em inglês), a instituição de fomento criada pelo grupo BRICS (Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul).

Apesar do Presidente Lula da Silva ter cancelado a sua visita oficial por recomendação médica, devido a uma pneumonia, tudo indica, diz o jornal Folha de S. Paulo, que Dilma Rousseff viajará mesmo assim. Escolhida a 24 de Março por unanimidade para ser a terceira presidente da instituição, a ex-chefe de Estado deverá assumir o cargo, mas deixar a solenidade da tomada de posse para quando Lula estiver em Pequim.

As diplomacias brasileira e chinesa estão a tentar acertar uma nova data para a viagem do chefe de Estado brasileiro, que Brasília pretende que quanto mais cedo melhor, se possível em Maio, pois a relação com Pequim é uma prioridade da política do novo executivo: a China é o principal parceiro comercial do Brasil e aquele com quem o país tem o maior superavit comercial há sete anos consecutivos.

No calendário da visita que Lula teve de adiar, a cerimónia da tomada de posse de Dilma no cargo estava marcada para o dia 30, quinta-feira, em Xangai, onde está situada a sede do NDB. O mandato de dois anos, até Julho de 2025, começou logo no dia em que foi escolhida para substituir Marcos Troyjo, que tinha sido indicado pelo ministro da Economia de Jair Bolsonaro, Paulo Guedes, em 2020 e deveria cumprir um mandato de cinco anos (a presidência da instituição é rotativa).

Para a economista que tentou em vão conseguir um lugar no Senado, este cargo é um reconhecimento e, ao mesmo tempo, uma tarefa difícil, não só porque a vai obrigar à mudança para a China, mas por ter de lidar com a questão da Rússia e da guerra na Ucrânia — a direcção executiva da instituição suspendeu todas as actividades relacionadas com a Rússia e a Bielorrússia em Março do ano passado, logo a seguir à invasão.

Ao mesmo tempo, o NDB, criado em 2015, ganha prestígio ao ter uma ex-Presidente na sua liderança — aliás, a ideia de criação do banco surgiu e ganhou vida no tempo em que Dilma era chefe de Estado. Visava criar uma alternativa de financiamento alternativa ao Fundo Monetário Internacional e ao Banco Mundial.

Conhecido como banco dos BRICS, grupo de economias emergentes que Lula incentivou diplomaticamente nos seus primeiros dois mandatos como chefe de Estado, já aprovou até agora 32,9 mil milhões de dólares (30,6 mil milhões de euros) para quase uma centena de projectos.

“A indicação de Dilma é a busca por parte do Governo Lula de ter uma pessoa de confiança num cargo estratégico. O então presidente [Troyjo] era tido como uma figura naturalmente incompatível para os anseios, podemos dizer, do governo Lula em termos de política externa”, disse à emissora alemã Deutsche Welle o professor de Relações Internacionais da Universidade do Estado do Rio de Janeiro, Paulo Velasco.

Para Dilma Rousseff, diz Velasco, é também uma oportunidade para “dar a volta por cima”, ainda mais num cargo que está talhado para o seu perfil, porque esta “é uma função muito mais técnica”. A ex-Presidente “exerceu funções técnicas no passado com alguma competência, quando era ministra, e tem perfil técnico-burocrata”.

Na sexta-feira, em comunicado, o banco dos BRICS lembrou que Dilma Rousseff estabeleceu como prioridade do seu governo o combate à pobreza e o alargamento dos programas sociais do seu antecessor, Lula da Silva. “Como resultado de um dos mais intensivos processos de redução da pobreza na história do país, o Brasil saiu do Mapa da Fome da ONU”, sublinha a nota da instituição.

O banco também ressalva, no mesmo comunicado citado pela agência de notícias chinesa Xinhua, o papel de Dilma Rousseff na defesa do multilateralismo, do desenvolvimento sustentável, dos direitos humanos e da paz.

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2023-03-27T07:00:00.0000000Z

2023-03-27T07:00:00.0000000Z

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