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Obrigado, senhor Nabeiro

Este grande senhor, que felizmente teve uma vida longa, soube aproveitá-la em pleno para seu bem, da sua família e de todos os que tiveram a felicidade de consigo privar. Quando os tempos e as políticas o proporcionaram, fez contrabando.

Quando as coisas normalizaram e foi apertado, soube rodear-se das pessoas certas para avançar. Passado o mau tempo, o senhor Nabeiro soube desenvolver negócios rentáveis, não se esquecendo ao mesmo tempo de cuidar do bem-estar dos que o rodeavam, sobretudo dos colaboradores e suas famílias. Nunca praticou a caridadezinha.

O senhor Nabeiro deu a cana e ensinou a pescar. Ao contrário de muitos que apanharam a boleia, o senhor Nabeiro devolveu com muita generosidade e elevação, ao seu país, alguma facilidade de que porventura usufruiu. (Deus manda ser bom, mas não manda ser parvo.)

O Governo, que também soube aproveitar as cerimónias fúnebres de um “sábio”, oxalá tenha aprendido a seguir o seu exemplo em vez de andar a fazer caridade. Pelo meu lado, curvo-me perante a sua imagem com toda a humildade, fazendo votos de que a sua obra seja continuada pelos seus sucessores.

Que descanse em paz. Guilherme da Conceição Duarte, Vale Cabeiro ganha para comer com o aparente descuido dos que costumam atirar milho a pombos.

Apoios pontuais a quem tem de ir todos os dias ao mercado e todos os dias 8 paga a renda ou vê vencida a prestação da casa em cada salário é pouco mais do que troça.

Mesmo até o conceito de “famílias mais vulneráveis” é eufemismo para mais de 80% de lares onde se corta já nas refeições para se poder manter o tecto.

Estes apoios pontuais não podem ser “vendidos” à opinião pública como refrescos em dias de calor; quem trabalha e ao dia 15 já lhe sobram outros 15 dias de privação não pode ver o seu desespero ser cozinhando em lume brando enquanto lhe dizem, na televisão e nos jornais, que vai ter direito a mais uns cobres até ao final do ano... à velocidade de três em três meses até ao... Natal.

Revisitando a imagem que o salazarismo deixou na casa portuguesa com apenas pão e vinho sobre a mesa e a triste sardinha para quatro é revoltante ver que só falta na parede o quadro com a foto de... António Costa.

Maria da Conceição Morais Mendes, Vila Nova de Gaia

Espaço Público

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2023-03-27T07:00:00.0000000Z

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