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Abrir as portas a médicos estrangeiros

Andreia Sanches

Em Portugal, há, segundo os últimos dados conhecidos, 1,4 milhões de utentes inscritos sem médico de família. Ano após ano, abundam as notícias de concursos de colocação de médicos, seja em centros de saúde ou em hospitais, para os quais não há candidatos suficientes, ou não há sequer candidatos. Há especialidades onde o problema é particularmente grave. Medicina geral e familiar, neurocirurgia, anestesiologia, oftalmologia, por exemplo.

A “falta de médicos” não é um problema português. É transversal a vários países — em Espanha, mesmo aqui ao lado, está na ordem do dia.

Há, de resto, países a recrutarem abertamente médicos de outros países, a competir por eles, para reforçar os seus sistemas de saúde.

Um médico especialista demora muitos anos a formar-se. Em Portugal, são precisos 11 a 13 anos, porque um médico precisa de fazer um curso de seis anos, mais um ano de internato geral e mais quatro a seis de internato complementar. É por isso que qualquer decisão sobre o número de vagas a abrir num dado ano no curso de Medicina, ou sobre autorizar ou não novos cursos a funcionar, leva tanto tempo a fazer-se sentir. É preciso pensar a longo prazo.

Por tudo o que aqui já se disse, a notícia que damos hoje no PÚBLICO, a de que Portugal continua a ser procurado por médicos de outros países, que aqui querem trabalhar, é uma excelente notícia. No final de 2022, havia 4503 estrangeiros inscritos na Ordem dos Médicos. Nunca foram tantos.

Mesmo assim, muitos, de países não comunitários, nomeadamente do Brasil, ficam pelo caminho, porque reprovam nas sucessivas provas exigidas. Estes 4500 passaram o crivo. Mas como muitos não têm a especialidade reconhecida, acabam a trabalhar à tarefa, como clínicos gerais, sobretudo nas urgências hospitalares mais desfalcadas. E não podem candidatar-se aos concursos para preenchimento de vagas em centros de saúde e hospitais — os tais que ficam, frequentemente, desertos.

Portugal tem um sistema exigente de reconhecimento de médicos. Na reportagem que hoje publicamos, muitos queixam-se de que é demasiado exigente e demasiado caro. São duas questões muito diferentes. Faz todo o sentido incentivar estes profissionais a não desistirem de ver reconhecida a sua formação, nomeadamente a sua especialidade, e não faz qualquer sentido cobrar taxas excessivas nestes processos. Devemos abrir a porta a estes médicos.

Já quanto à exigência das provas, a presidente do Conselho das Escolas Médicas Portuguesas garante-nos que o padrão é semelhante ao que é imposto aos médicos portugueses. Como “estamos a tratar da vida das outras pessoas”, seria incompreensível baixá-lo. Por muito que precisemos deles.

Espaço Público

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2023-03-27T07:00:00.0000000Z

2023-03-27T07:00:00.0000000Z

https://ereader.publico.pt/article/281552295111647

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