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Rui Moreira não exclui Belém, nem Bruxelas e critica Marcelo por excesso de opinião

Presidente da Câmara do Porto diz que chefe de Estado “condiciona” o Governo. E aponta falta de ministro político no Governo

Margarida Gomes

O presidente da Câmara do Porto, que está a cumprir o terceiro mandato, considera que o “tempo do exercício do poder executivo já chegou ao fim” e não afasta uma eventual entrada na corrida das eleições presidenciais. Rui Moreira declarou, ontem, em entrevista à Antena 1, que se sente “lisonjeado” pelo facto de o Presidente da República o ter incluído no “leque de potenciais candidatos” a Belém, em 2026, e ao ser questionado se afasta essa hipótese responde: “Não. Mas não me parece uma coisa provável, nem me parece que bata muito certo com os calendários políticos de alguém que quer cumprir o mandato até ao fim.”

“Acho que é muito generoso da parte do senhor Presidente da República incluir-me no leque de potenciais candidatos. Sinto-me lisonjeado com isso. Se me perguntar se pensei nisso, sinceramente não”, disse, observando porém que o “tempo da sua vida no exercício do poder executivo chegou ao fim”.

“Fui executivo em empresas, numa associação comercial e presidente da Câmara do Porto. De alguma maneira, cumpri aquilo que queria e estou muito satisfeito (…). E depois de chegar ao fim, virá o tempo em que vou pensar se tenho energia para fazer coisas, se ainda quero fazer coisas.”

Na entrevista, conduzida pela jornalista Natália Carvalho, o autarca independente encontra diferenças entre o actual e o anterior mandato de Marcelo Rebelo de Sousa, considerando que o chefe de Estado, por vezes, “condiciona muito a actuação” do Governo, numa alusão à pressão exercida sobre o executivo.

“Durante a fase da ‘geringonça’, o Presidente da República foi muito amortecedor da preocupação dos portugueses”, constata Rui Moreira, referindo que “neste mandato teve de ajustar a sua posição perante o Governo”: “Um Governo com maioria absoluta e não sei se, por vezes, ele é não demasiadamente explicativo.”

E prossegue: “Acho que é bom haver um Presidente da República que explique as coisas aos portugueses, até porque isso desmonta muito a demagogia e o populismo, e não sei se, por vezes, esse exercício não vai um pouco longe demais aqui e ali e nalgumas matérias em que me parece que há talvez um excesso de opinião, o que depois, de facto, condiciona um pouco o Governo.”

E exemplifica: “Relativamente à questão dos professores — que é uma questão muito séria —, e numa altura em que há este conflito social, parece-me que tem havido um excesso de declarações (…) e seria mais prudente esperar e perceber se é possível chegar a um acordo ou não.”

Já a nível do Governo, o presidente da Câmara do Porto acredita que chegará ao fim da legislatura, apesar dos sucessivos “casos e casinhos” que têm marcado os dez meses de governação. Sobre as fragilidades apontadas ao executivo, Moreira diz não saber se a maioria está fragilizada, mas considera que o “exercício desse poder por parte de António Costa ainda não está a ser suficientemente exercido”.

“Acho que sobrou aqui um resquício da ‘geringonça’. O centrismo do Bloco de Esquerda que ocupou uma parte da ala esquerda do PS não desapareceu e acho que António Costa vive um pouco ainda refém dessa circunstância, e isso acaba por marcar um pouco e condicionar um pouco a governação”, explicou, vincando que este é um “Governo muito personalista, em que António Costa tem uma força muito grande”. O autarca reforça que o Governo vive muito da imagem de Costa e aponta falhas. “Falta um ministro político, como teve Passos Coelho ou José Sócrates.” “[O primeiro-ministro] não tem um ministro próximo — Mariana Vieira da Silva não tem essa característica.”

“Nunca fui convidado”

Ao longo da entrevista, o autarca falou da vontade de cumprir o mandato autárquico, embora tenha admitido que possa “haver sempre circunstâncias do foro pessoal, do foro de saúde. Eu não gostaria de sair antes e não vejo, neste momento, razão objectiva para sair antes”.

Questionado sobre se uma candidatura às europeias de 2024 seria suficiente para antecipar a sua saída da câmara, diz: “Essa é uma coisa que nunca me foi falada. De vez em quando, falam-me de coisas estranhas. Durante anos, andaram-me a perguntar se eu ia ser presidente ou candidato ao FC do Porto e eu fui explicando que não, agora falam-me nisso. Por um lado, sinto-me lisonjeado.”

Reagindo a uma segunda investida da jornalista sobre uma candidatura ao Parlamento Europeu, o autarca sublinha que vê o seu futuro passar por fazer política activa quando sair da câmara. “Nunca fui convidado nem por António Costa, nem por Luís Montenegro”, declarou.

E se, por exemplo, Luís Montenegro lhe fizer uma proposta? “Admito sempre que amanhã podem tentarme para alguma coisa. Até hoje nunca ninguém me tentou e não estou à espera que me tentem, acho improvável que o façam. Agora, como qualquer outra pessoa, não podemos dizer hoje se amanhã me propuserem aquilo aceita ou não aceita”, disse.

“Para já, nunca fui convidado, nunca falei com nenhum deles e nunca nenhum deles falou comigo sobre essa matéria. Em segundo lugar, fui toda a vida independente, nunca fiz parte da lógica dos partidos”, justifica Rui Moreira, que se mostra pouco preocupado com o que vai fazer quando deixar autarquia.

Política

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2023-02-03T08:00:00.0000000Z

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