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Prestação da casa volta a disparar e mais de 70% são juros

Encargos de um crédito de 150 mil euros, a 30 anos, com spread de 1% e Euribor a 12 meses, sobem 295 euros, para 745,30 euros

Rosa Soares

As taxas Euribor, a que estão associados cerca de 90% dos empréstimos em Portugal, continuam a não dar tréguas às famílias. As médias fixadas em Janeiro, que servirão de referência às revisões e às novas operações a ocorrer em Fevereiro, subiram de forma expressiva, agravando o valor das prestações e desequilibrando o valor pago em juros e em amortização de capital.

As subidas são mais expressivas nos contratos associados às Euribor a 12 e seis meses, porque as taxas destes prazos estão mais elevadas, comparativamente ao de três meses, mas também porque as últimas actualizações ocorrem com valores negativos (-0,477% em Janeiro de 2022) ou substancialmente mais baixos (0,466% em Julho de 2022), respectivamente.

As taxas médias, arredondadas à milésima, subiram no primeiro mês do ano para 2,345% a três meses (2,063% em Dezembro) e para 2,858% e 3,337% a seis e 12 meses, respectivamente acima dos 2,560% e 3,018% do mês anterior.

O impacto da subida das taxas é mais fácil de avaliar com recurso a uma simulação. Assim, um crédito de 150 mil euros, a 30 anos, com um spread (ou margem do banco) de 1%, e associado à taxa média da Euribor a 12 meses de Janeiro, vai corresponder a uma prestação de 745,30 euros, mais 295 euros face ao que pagava desde o início do ano de 2022 (450,30 euros).

Os contratos a rever em Fevereiro associados à Euribor a 12 meses só voltarão a ser revistos em Fevereiro de 2024, pelo que, de acordo com o cálculo realizado pelo PÚBLICO — que não inclui outros custos fiscais ou comissões —, o agravamento anual ascenderá a 3540 euros. Trata-se de um agravamento de 65,51%.

A mesma simulação, mas utilizando a média da Euribor a seis meses, mostra que a prestação sobe para 703,90 euros, mais 188,03 euros (36,6%) no espaço de seis meses. A próxima actualização será feita em Agosto.

Com a Euribor a três meses, a subida é mais suave, uma vez que a prestação passará para 660,66 euros, contra os 587,08 euros anteriores. Ou seja, um agravamento de 12,5% face à última revisão, ocorrida em

Novembro passado. Como se trata de um prazo mais curto, a próxima revisão acontecerá no mês de Maio.

Subidas tão expressivas serão difíceis de acomodar para muitas famílias, o que poderá originar um aumento significativo das renegociações de crédito, no âmbito do Decreto-Lei n.º 80-A/2022, de 25 de Novembro. Este diploma pretende criar melhores condições para essa renegociação, de forma a evitar a entrada em incumprimento, situaeuros

3,337 As taxas médias subiram em Janeiro para 2,345% a três meses (2,063% em Dezembro) e para 2,858% e 3,337% a seis e 12 meses, respectivamente

ção que acarreta consequências graves para as famílias. Ainda assim, têm sido reportados pelos particulares vários problemas no acesso a estas soluções.

Peso dos juros aumenta

A subida acelerada das Euribor, para máximos de 14 anos, também desequilibrou a composição da prestação, em desfavor dos particulares. Ao contrário do que aconteceu durante os anos em que as taxas Euribor estiveram negativas, em que os encargos com juros representavam a fatia mais pequena ou, em menor escala, não se verificou essa cobrança, agora representa mais de dois terços do valor total, e a amortização de capital o restante.

Na simulação realizada, com a taxa a 12 meses, que corresponde a uma prestação de 754,30 euros, a fatia dos juros ascende a 541 euros (72,6%), sendo os restantes 203 de amortização de capital.

Em sentido contrário, ou seja, com a Euribor a 12 meses negativa de Janeiro de 2022, que correspondia a uma prestação de 450 euros, a “fatia de leão” ia para a amortização de capital, mais concretamente 385 euros, ou seja, 85%, com apenas 65 euros a corresponder a juros.

Também a simulação para empréstimos associados à Euribor a seis e três meses, o valor referente a juros é substancialmente mais elevado. Assim, com taxas de juro mais altas a redução do capital em dívida é mais lenta, agravando o valor total do custo com juros.

E as perspectivas de evolução das taxas Euribor — fixadas diariamente, no mercado monetário, a partir das taxas a que um conjunto alargado de bancos está disponível para conceder empréstimos entre si — não são animadoras.

O valor daquelas taxas segue de perto as decisões de política monetária do Banco Central Europeu (BCE), que tem vindo a aumentar as taxas directoras desde Julho, uma das “armas” utilizadas pelos bancos centrais para combater a escalada da inflação. Amanhã, o Conselho de Governadores do BCE volta a reunir-se, e deverá decidir mais um aumento de 0,5 pontos percentuais, movimento que as Euribor têm vindo a antecipar.

As declarações recentes da presidente do BCE, Christine Lagarde, foram no sentido de que a inflação ainda se encontra “demasiado elevada” e que o BCE vai “manter o seu rumo” com vista à redução deste indicador. A taxa de refinanciamento do BCE, referência para os empréstimos aos bancos comerciais, está actualmente em 2,5%, e a taxa de juro de depósito (a taxa a que remunera os depósitos feitos pelos bancos no banco central) em 2%.

Economia

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2023-02-01T08:00:00.0000000Z

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