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“O que está a acontecer na Europa pode acontecer na Ásia”

António Saraiva Lima

Stoltenberg no Japão

Jens Stoltenberg, secretário-geral da NATO, defendeu ontem, em Tóquio, o reforço da cooperação entre a aliança militar e o Governo japonês, alertando que o mundo enfrenta “o mais grave e complexo ambiente securitário desde o final da II Guerra Mundial” e apontando o dedo à Federação Russa e à República Popular da China.

No primeiro de dois dias de uma visita à capital do Japão, Stoltenberg reuniu-se com o primeiro-ministro, Fumio Kishida, e visitou a base militar de Iruma, depois de, na véspera, ter estado em Seul, na vizinha Coreia do Sul, onde se encontrou com o Presidente, Yoon Seok-yeol.

Em declarações aos jornalistas após a reunião com Kishida, o secretáriogeral da NATO alertou para os potenciais efeitos sistémicos de uma vitória da Rússia no conflito com a Ucrânia, cenário que, defende, pode servir de incentivo para a China continuar a “fazer bullying aos seus vizinhos”.

“Pequim e Moscovo estão a liderar uma reacção autoritária contra a ordem internacional baseada em regras. O Indo-Pacífico enfrenta desafios cada vez maiores, desde o comportamento coercivo da China às provocações da Coreia do Norte. E, na Europa, a Rússia continua a travar a sua brutal guerra de agressão contra a Ucrânia. Esta guerra não é apenas uma crise europeia, mas um desafio à ordem mundial”, denunciou.

“Se Putin triunfar na Ucrânia, enviará uma mensagem de que os regimes autoritários podem alcançar os seus objectivos através da força bruta. Isto é perigoso. Pequim está a observar atentamente e a aprender lições que podem influenciar as suas decisões futuras”, sublinhou. O norueguês não tem dúvidas em afirmar que “o que está acontecer hoje na Europa pode acontecer amanhã na Ásia Oriental”.

Embora não apoie oficialmente a Rússia no conflito com a Ucrânia, o Governo chinês recusa condenar o Kremlin pela invasão. E poucas semanas antes do início da invasão do território ucraniano, os Presidentes Xi Jinping e Vladimir Putin celebraram, em Pequim, a parceria “sem limites” entre os seus dois países. Mesmo assumindo o incómodo com os efeitos negativos da guerra na sua economia, a China tem vindo a aprofundar a sua cooperação económica, energética e diplomática com a Rússia.

Muitos países ocidentais tratam, por isso, a China como apoiante da guerra russa, numa lógica de oposição ideológica ao Ocidente e de defesa de um mundo multipolar.

“A China está a desenvolver as suas forças militares, incluindo armas nucleares; a fazer bullying aos seus vizinhos e a ameaçar Taiwan; a tentar controlar infra-estruturas críticas; e a espalhar desinformação sobre a NATO e a guerra na Ucrânia”, acusou Stoltenberg. “A China não é nossa adversária, mas temos de compreender a escala do desafio.”

Certo é que a NATO e o Japão têm vindo a reforçar e a expandir as áreas de cooperação, designadamente nos campos da segurança marítima, do ciberespaço e do controlo de armamento. As “ameaças” da China e da Rússia na sua vizinhança foram, aliás, apontadas pelo Governo de Kishida como justificações para a duplicação do orçamento de Defesa do Japão, de 1% para 2% do PIB, em cinco anos, o que o tornará no terceiro país do mundo que mais vai gastar em meios militares, apenas superado pelos EUA e pela China.

A decisão japonesa é particularmente significativa tendo em conta que, após a derrota na II Guerra Mundial, o Japão renunciou ao conflito armado.

Na sua passagem pela Coreia do Sul, no domingo e na segunda-feira, Stoltenberg apelou ao Governo de Yoon Seok-yeol para aumentar o seu apoio militar ao Exército ucraniano.

A Coreia do Sul é um importante exportador de armas a nível mundial, mas tem uma lei que proíbe a venda de armamento para países que estejam em conflito.

“Apelo à República da Coreia [Coreia do Sul] para continuar e para avançar na questão específica do apoio militar. No final do dia, é uma decisão que só vocês [sul-coreanos] podem tomar, mas posso dizer que muitos aliados da NATO que tinham políticas para nunca exportarem armas para países em conflito mudaram essas políticas”, afirmou. “Se não queremos que a autocracia e a tirania vençam, então eles [ucranianos] precisam de armas.”

Guerra Na Ucrânia

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2023-02-01T08:00:00.0000000Z

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