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Uma “coligação de caças” para a Ucrânia parece ainda improvável

Joe Biden diz que “não” vai enviar caças e Rishi Sunak afirma que “não é prático”, enquanto Emmanuel Macron não é tão taxativo. Força Aérea ucraniana precisa de 200 aeronaves, afirma um porta-voz

João Pedro Pincha

Contas feitas, entre os Leopard 2 alemães, os Challenger 2 britânicos e os Abrams americanos, a Ucrânia espera receber em breve 120 a 140 carros de combate provenientes de 12 países aliados. A estimativa é do ministro dos Negócios Estrangeiros, Dmitro Kuleba, que ontem afirmou que Kiev pretende o “alargamento da coligação de tanques” a outros parceiros e “o aumento das contribuições daqueles que já se comprometeram”.

A formação de uma “coligação de caças” é que parece, para já, mais difícil. O Presidente ucraniano e vários governantes e assessores insistiram no fornecimento de aviões de guerra, nomeadamente F-16, quase no exacto momento em que os aliados ocidentais acederam ao envio de tanques, mas até ver nenhum deles respondeu positivamente ao apelo.

Joe Biden foi sucinto, quando lhe perguntaram se os Estados Unidos iam fornecer caças à Ucrânia: “Não.” Segundo o The New York Times,a Casa Branca recusou explicar se a recusa do Presidente americano era definitiva ou apenas no curto prazo.

Vencida a resistência de Berlim ao fornecimento de tanques Leopard, também o chanceler alemão fez saber que não põe a hipótese de enviar aviões de guerra para Kiev. O primeiro-ministro britânico, Rishi Sunak, salientou através de um porta-voz que Londres ainda não recebeu qualquer pedido formal da Ucrânia nesse sentido — e que, tendo em conta que os caças britânicos Typhoon e F-35 “são extremamente sofisticados e são precisos meses para aprender como se pilotam”, enviá-los “não é prático”.

Na véspera de o ministro da Defesa ucraniano visitar Paris para uma reunião com o seu homólogo francês, o porta-voz da Força Aérea da Ucrânia afirmou à TF1 que o país quer ter uma frota de 200 caças novos “para substituir os aviões soviéticos obsoletos”. Yurii Ihnat explicou que o objectivo não é tê-los todos em simultâneo, mas ir recebendo progressivamente as aeronaves. “Se pudéssemos ter algumas esquadras [de 12 aviões] para começar, isso permitir-nos-ia formar os nossos pilotos, outros membros da tripulação, os nossos engenheiros”, disse à televisão francesa. “Depois, se tivermos cinco brigadas, com três esquadras por brigada, poderemos ter 200 aviões.”

Actualmente, de acordo com Ihnat, a Força Aérea ucraniana conta com 11 brigadas, incluindo para treinos e transporte, e o seu caça mais novo data de 1991. O responsável também disse que a modernização da frota aérea já estava em curso antes da guerra e que esta só veio tornar mais urgente a substituição dos velhos aviões por outros mais modernos e capazes de atacar tanto alvos aéreos como terrestres. “Neste momento, os F-16 são os candidatos mais prováveis a substituir as aeronaves soviéticas”, afirmou Ihnat, mas “esta não é decisão de um homem só [e] estão a decorrer consultas com os parceiros” da Ucrânia.

Embora os aliados de Kiev, nomeadamente os países da NATO, ainda não tenham fornecido aviões de combate à Ucrânia, há já vários meses que os pilotos militares do país estão a treinar o manuseamento de aeronaves ocidentais. Em Agosto, uma reportagem da Time visitou um local algures na Ucrânia em que se faz um destes treinos com recurso a óculos de realidade virtual.

Artilharia francesa

Os aviões parecem ter ficado de fora da discussão de ontem entre os ministros da Defesa ucraniano e francês. “Nós apenas sublinhámos que a aviação táctica é uma componente da defesa antiaérea e que temos necessidade de reforçar as nossas capacidades de defesa no nosso espaço aéreo”, declarou Oleksi Reznikov no fim do encontro.

Igualmente de visita a Paris, o presidente do Parlamento ucraniano fez um pedido concreto de aviões aos “colegas franceses” na Assembleia Nacional. “Dêem-nos aviões, dêem-nos as asas para a nossa vitória”, disse Ruslan Stefanchuk, citado pelo Le Monde. Ao contrário de Biden ou Sunak, Emmanuel Macron não foi taxativo sobre a questão, afirmando que “nada está excluído” e que França tomará uma decisão com base em três critérios: que o fornecimento “não enfraqueça a capacidade das Forças Armadas francesas”, não sirva “para atacar solo russo mas ajude ao esforço de resistência” e “não contribua para a escalada [da guerra]”.

O envio de armas para a Ucrânia não é um assunto pacífico nas bancadas parlamentares francesas, que ontem, com o presidente da Assembleia

ucraniana na sala, repetiram os apelos para um debate mais alargado. Tanto a União Nacional de Marine Le Pen como A França Insubmissa, de Jean-Luc Mélenchon, opinaram que França deve colocar-se como mediadora diplomática e organizar uma conferência de paz.

Apesar de não levar para Kiev novidades sobre aviões, o ministro ucraniano não saiu da capital francesa de mãos a abanar. O homólogo, Sébastien Lecornu, comprometeuse a fornecer mais 12 obuses Caesar “nas próximas semanas”, que se somam aos 18 já antes enviados por Paris e aos 19 que a Dinamarca prometeu oferecer. França vai também fornecer um radar e mísseis para defesa antiaérea, bem como colocar 150 militares na Polónia para dar formação aos soldados ucranianos.

Guerra Na Ucrânia

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2023-02-01T08:00:00.0000000Z

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