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No Qatar, selecção tem de deixar o mate em xeque

O mate bebido por quase todos os uruguaios dota-os de intensidade em campo, como uma poção. Portugal terá de igualar essa intensidade para depois se impor

Diogo Cardoso Oliveira, em Doha

Deixar o mate em xeque, para fazer um xeque-mate à qualificação para os oitavos-de-final do Mundial 2022. É isto que Portugal tem de fazer ao Uruguai, hoje, no estádio Lusail, em Doha.

E o que podemos esperar deste Uruguai? Estar num media centre, no Qatar, permite dar parte da resposta. Os podcasts estão em voga na América do Sul como veículos de comentário desportivo. Isso fica claro nas salas de imprensa em Doha, nas quais ouvimos todos os dias jornalistas argentinos e uruguaios dissertarem, sempre no clássico tom de voz bem alto, sobre o que tem sido o Mundial das suas selecções.

Um deles, um uruguaio que falava para a radio Sport 890, veiculava uma ideia interessante sobre a equipa agora treinada por Diego Alonso. “Fala-se de ser uma equipa que tem muita atitude, mas atitude não pode ser um mérito, mas sim uma necessidade”, apontava, com tom crítico, sobre uma equipa que empatou a zero na primeira jornada.

O que este jornalista queria ilustrar era que a uma equipa que tem Valverde (ver texto na página seguinte), Suárez, Darwin ou Cavani não se pode pedir apenas a atitude e intensidade habituais nas formações sulamericanas, que isso é até uma obrigação. Com este talento, é preciso mais. E é isso que tem faltado ao Uruguai. Algo mais que retire a equipa do plano da intensidade e a coloque no da criatividade.

Esta reflexão do jornalista uruguaio serve para alertar Portugal para que tipo de jogo deve estar preparado. Jogadores como Neves, Vitinha, Bernardo, Cancelo ou Félix terão de tentar igualar os níveis de intensidade de Otávio ou Bruno Fernandes, sob pena de a equipa nacional ser “engolida” pelos “tractores” uruguaios. Assegurada essa predisposição física, só faltará o resto. E não é pouco.

Uruguaios mantêm a matriz

Na antevisão da partida, Fernando Santos defendeu que este Uruguai não é uma equipa muito diferente daquela que derrotou Portugal no Mundial 2018 e que foi orientada durante muitos anos por Óscar Tabarez. As diferenças, crê o seleccionador, estão em duas ou três pedras diferentes, mas o estilo de jogo não mudou.

“Cavani e Suárez nessa altura tinham menos cinco anos”, lembrou. E detalhou: “A matriz de jogo não mudou assim tanto. Mudaram características de jogadores. É uma equipa muito forte em qualidade técnica e muito equilibrada nos vários momentos do jogo. Ataca muito a profundidade, colocando a bola nas costas dos adversários, e é perigosa nos cruzamentos.”

Daqui se depreende que Fernando Santos espera uma equipa expectante e a “entregar” o jogo a Portugal, algo que até chegou a argumentar ao dizer que os sul-americanos tentam, com essa postura, que o adversário “adormeça” — foi essa a expressão utilizada — para depois o pressionar agressivamente de um momento para o outro.

Nessa medida, o Uruguai poderá explorar as costas da defesa portuguesa, até porque tem em Darwin um dos melhores do mundo nessa tarefa. E Portugal saber defender esse tipo de jogo estará inevitavelmente ligado à condição física de Pepe.

O central português sempre fez da velocidade uma virtude — e mesmo aos 39 anos continua a fazer —, mas o baixo ritmo de jogo, após lesão (não joga 90 minutos deste 4 de Outubro), poderá criar dificuldades ao portista, que será o substituto do lesionado Danilo.

Também João Cancelo e Raphaël Guerreiro demonstraram dificuldades em bolas aéreas colocadas no espaço, algo que o Uruguai explorará. Com Dalot e Mendes à espreita — e ambos mais fortes no capítulo defensivo —, ninguém ficaria espantado com rotação nas “asas” portuguesas. E se há seleccionador que pode fazêla sem receio de perder qualidade é o português.

Leão ou não Leão?

No plano ofensivo, Fernando Santos tem decisões a tomar. O novo modelo de jogo, assente na dinâmica, mobilidade e futebol apoiado, não foi um sucesso total frente ao Gana — a selecção acabou até a resolver a partida em... transições.

Ainda assim, é certo que esta matriz se manterá, garantia de Santos, pelo que fica a questão: se e como incluir Rafael Leão na equação.

A lesão de Otávio (não é garantido que não jogue), até por o médio ter actuado mais na zona esquerda do meio-campo, poderia abrir, em tese, o lugar a Leão. O problema é que Otávio e Leão são como azeite e água.

Um, Leão, não tem nada que ver com o outro, Otávio, na intensidade com e sem bola, na predisposição para defender, no tipo de movimentos que faz e no quanto contribui para o jogo associativo — aí, Vitinha e João Mário fariam mais sentido.

Por outro lado, o jogador do AC Milan dota a equipa de verticalidade, técnica, drible, imprevisibilidade, velocidade e finalização que o jogador do FC Porto não oferece e que pareceu fazer falta à equipa nacional.

Leão é alguém que gosta de desequilibrar mais pela via individual. Por ser um jogador menos associativo e menos apto às trocas posicionais constantes, será menos adequado ao modelo de Santos (com ou sem Otávio)? E Leão voltará, portanto, a ser uma “arma” a tirar do banco já com o jogo mais partido, podendo fazer a diferença pela técnica e velocidade?

Não conseguimos fazer esta pergunta ao seleccionador, pelo que a resposta surgirá apenas mais logo, quando soubermos os “onzes”.

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