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Há uma “tendência” para se instalar uma ditadura em São Tomé e Príncipe

Oposição pede investigação internacional à alegada “tentativa de golpe de Estado”. ONU e CEEAC disponibilizam apoio

António Rodrigues

O principal partido da oposição em São Tomé e Príncipe, MLSTP/PSD, alerta para a “tendência de instalação de um governo ditatorial” no país, pedindo um “inquérito internacional” aos incidentes de sexta-feira, que o primeiro-ministro, Patrice Trovoada, classificou como “tentativa de golpe de Estado”, mas que acabou com quatro suspeitos mortos depois de detidos pelos militares.

A ONU e a Comunidade Económica dos Estados da África Central (CEEAC) já se disponibilizaram para ajudar no inquérito internacional. Pelo menos terá sido isso, segundo a agência de notícias são-tomense STP Press, que o representante das Nações Unidas, Eric Overvest, e o presidente da CEEAC, Gilberto Veríssimo, que já está em São Tomé, disseram ao chefe de Estado são-tomense, Carlos Vila Nova, e ao primeiro-ministro.

Vila Nova, que se tem mantido em silêncio em relação aos acontecimentos de sexta-feira, cancelou uma viagem oficial a Cabo Verde e convocou para ontem uma reunião do Conselho Superior de Defesa Nacional para analisar o alegado ataque ao quartel de São Tomé.

O Movimento de Libertação de São Tomé e Príncipe-Partido Social Democrata (MLSTP-PSD), através do porta-voz da comissão política, o deputado Raul Cardoso, não se esqueceu de “lamentar o silêncio comprometedor do Presidente da República”, no fim da reunião de sábado da direcção do partido. Vila Nova foi apoiado na sua candidatura à presidência pela ADI, o partido liderado pelo primeiro-ministro, que tem coordenado a resposta ao suposto golpe, apesar de constitucionalmente ser o Presidente, por inerência do cargo, o comandante-em-chefe das Forças Armadas.

É, por isso, que o MLSTP-PSD vem chamar a atenção da comunidade internacional para indícios de que Trovoada esteja a mexer os cordelinhos para se assenhorar do poder no arquipélago. “Perante as evidências dos actos de 25 de Novembro e as acções subsequentes, o MLSTP/PSD alerta a população e a comunidade internacional sobre a tendência para a instalação de um governo ditatorial com objectivo de amordaçar a democracia e intimidar os opositores através da instalação do terror, medo e perseguição”, disse Raul Cardoso, numa declaração lida aos jornalistas, citada pela Lusa.

O partido “condena todos os actos de violência contra os cidadãos e instituições do Estado” e “a forma bárbara como cidadãos visivelmente amarrados e neutralizados foram violentamente torturados e executados no recinto do quartel-general”.

O MLSTP/PSD referia-se à forma como três dos quatro alegados atacantes do quartel, bem como o deputado Arlécio Costa, do Basta — alegado mandante do golpe e que foi preso em sua casa às primeiras horas do dia de sexta-feira —, foram aparentemente agredidos, torturados e mortos quando estavam nas mãos dos militares. Detidos estão o ex-presidente da Assembleia Nacional, Delfim Neves, um membro da direcção do banco central (será um dos vogais do conselho de auditoria, Jorge do Espírito Santo Cravid) e um membro da Agência de Promoção e Comércio e Investimentos.

Ontem, em conferência de imprensa, o chefe do Estado-Maior das Forças Armadas, brigadeiro Olinto Paquete, garantiu que já foi pedido ao inspector-geral das Forças Armadas “que instaure um processo de averiguação” sobre as quatro mortes.

“O quartel de Morro foi deliberadamente atacado e reagimos, em defesa legítima, na defesa do Estado de direito, da democracia e em respeito do direito de todos”, declarou Olinto Paquete, citado pela Lusa. O brigadeiro explicou que três dos atacantes morreram após uma explosão e que Arlécio Costa, de acordo com as informações, “saltou da viatura” em que estava a ser transportado depois de detido, porque, de acordo com a versão oficial, um dos envolvidos o citou como “mandante” da intentona.

Raul Cardoso diz que o MLSTP/PSD exige um debate de urgência e afirma ter contactado “as Nações Unidas, o corpo diplomático residente e as forças políticas nacionais” para se encontrar “uma solução viável para esta situação”. com Lusa

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2022-11-28T08:00:00.0000000Z

2022-11-28T08:00:00.0000000Z

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